Ruy Fabiano, Blog do Noblat
A semana começou com um duelo, contornado por um acordo,
entre STF e Senado, em que ambos decidiram preservar no cargo o presidente do
Congresso, Renan Calheiros, mesmo sendo réu. A decisão, cercada de denso
juridiquês, expôs um paradoxo, que estabelece uma nova hierarquia entre os
Poderes: réu não pode presidir o Executivo, mas pode presidir o Legislativo.
Para coroar a semana, mais denúncias, desta vez envolvendo o
próprio presidente da República, Michel Temer (PMDB), o expresidente Lula (PT)
e o governador paulista (e presidenciável) Geraldo Alckmin (PSDB). O momento,
como se vê, é suprapartidário. De quebra, o Ministério Público do Rio de
Janeiro bloqueou os bens do prefeito, Eduardo Paes (PMDB), por improbidade
administrativa na construção do Campo de Golfe Olímpico da Barra da Tijuca.
Paes teria dispensado a construtora Fiori do pagamento de R$
1,8 milhão de licença ambiental para fazer a obra, em 2013. Pelo visto, 2016 é
um ano que não quer e não vai acabar. A delação da Odebrecht promete bem mais.
Comecemos por Michel Temer. Segundo o diretor de Relações Institucionais da
Odebrecht, Cláudio Melo Filho, Temer pediu R$ 10 milhões à empresa, entregues,
em dinheiro vivo, a pessoas de sua estrita confiança, entre as quais Eliseu
Padilha, chefe da Casa Civil, e José Yunes, assessor especial da Presidência.
Temer não foi o único a merecer tais atenções. O delator
informa que a empresa comprou os serviços de muitos outros figurões do
Legislativo e do Executivo. Os nomes virão à tona ainda este ano e incluem quase
duas centenas de parlamentares. Mantido o foro privilegiado, serão julgados
algum dia pelo STF.
Em outra delação, da Operação Zelotes, surge outra denúncia
contra Lula: recebeu dinheiro de lobistas para defender interesses de empresas
junto ao governo de Dilma Rousseff. As denúncias relacionam três crimes: venda
de medida provisória para prorrogação de isenção fiscal da indústria
automobilística (que teve como intermediário o filho caçula de Lula, Luís
Cláudio); intermediação junto à Receita Federal para suspensão de multas
milionárias de empresas; e compra irregular de 36 caças suecos para a FAB, num
contrato de 5,4 bilhões de dólares.
Já Geraldo Alckmin teria recebido R$ 2 milhões, também em em
dinheiro vivo, para cobrir gastos das campanhas de 2010 e 2014. Os
intermediários citados aprofundam as danações do governador: seu cunhado,
Adhemar Ribeiro, e seu secretário do Planejamento, Marcos Monteiro – crise em
casa e no trabalho.
Considerada a semana em seu conjunto, não há dúvida de que
os três Poderes estão em perfeita harmonia, ainda que pelo avesso. A pergunta
é: quem terá autoridade para impor à população sacrifícios nas reformas que o
país, entregue em estado terminal pelos governos petistas, carece? O Executivo?
O Legislativo? O Judiciário?
Apertem o cinto: o piloto sumiu!
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