quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O MUNDO COMEÇOU A DESABAR

Ruy Fabiano, Blog do Noblat
A semana começou com um duelo, contornado por um acordo, entre STF e Senado, em que ambos decidiram preservar no cargo o presidente do Congresso, Renan Calheiros, mesmo sendo réu. A decisão, cercada de denso juridiquês, expôs um paradoxo, que estabelece uma nova hierarquia entre os Poderes: réu não pode presidir o Executivo, mas pode presidir o Legislativo.
Para coroar a semana, mais denúncias, desta vez envolvendo o próprio presidente da República, Michel Temer (PMDB), o expresidente Lula (PT) e o governador paulista (e presidenciável) Geraldo Alckmin (PSDB). O momento, como se vê, é suprapartidário. De quebra, o Ministério Público do Rio de Janeiro bloqueou os bens do prefeito, Eduardo Paes (PMDB), por improbidade administrativa na construção do Campo de Golfe Olímpico da Barra da Tijuca.
Paes teria dispensado a construtora Fiori do pagamento de R$ 1,8 milhão de licença ambiental para fazer a obra, em 2013. Pelo visto, 2016 é um ano que não quer e não vai acabar. A delação da Odebrecht promete bem mais. Comecemos por Michel Temer. Segundo o diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, Temer pediu R$ 10 milhões à empresa, entregues, em dinheiro vivo, a pessoas de sua estrita confiança, entre as quais Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, e José Yunes, assessor especial da Presidência.
Temer não foi o único a merecer tais atenções. O delator informa que a empresa comprou os serviços de muitos outros figurões do Legislativo e do Executivo. Os nomes virão à tona ainda este ano e incluem quase duas centenas de parlamentares. Mantido o foro privilegiado, serão julgados algum dia pelo STF.
Em outra delação, da Operação Zelotes, surge outra denúncia contra Lula: recebeu dinheiro de lobistas para defender interesses de empresas junto ao governo de Dilma Rousseff. As denúncias relacionam três crimes: venda de medida provisória para prorrogação de isenção fiscal da indústria automobilística (que teve como intermediário o filho caçula de Lula, Luís Cláudio); intermediação junto à Receita Federal para suspensão de multas milionárias de empresas; e compra irregular de 36 caças suecos para a FAB, num contrato de 5,4 bilhões de dólares.
Já Geraldo Alckmin teria recebido R$ 2 milhões, também em em dinheiro vivo, para cobrir gastos das campanhas de 2010 e 2014. Os intermediários citados aprofundam as danações do governador: seu cunhado, Adhemar Ribeiro, e seu secretário do Planejamento, Marcos Monteiro – crise em casa e no trabalho.
Considerada a semana em seu conjunto, não há dúvida de que os três Poderes estão em perfeita harmonia, ainda que pelo avesso. A pergunta é: quem terá autoridade para impor à população sacrifícios nas reformas que o país, entregue em estado terminal pelos governos petistas, carece? O Executivo? O Legislativo? O Judiciário?
Apertem o cinto: o piloto sumiu!
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