Nunca fui muito bom procurando o Wally nas páginas duplas
daqueles livros que viciavam. Mesmo assim, ou por isso mesmo, gostava de
folhear até encontrar o dito cujo. Persistia. Como não decorava o paradeiro do
protagonista e de outros personagens, reabria os livros como se nunca os
tivesse visitado.
Na primeira metade da década de 1990, apogeu da febre do
Wally, eu cobria ao mesmo tempo o cotidiano do São Paulo treinado pelo Telê e
as viagens da seleção brasileira, nas mãos do Parreira. Ficava pouco tempo na
redação, viajava muito. Um colega gente boa, o Paulo Calçade em seus tempos de
jornalismo impresso, passou a me chamar de Wally, por não saber onde eu andava.
Ainda bem que o apelido não pegou.
Voltei a buscar o Wally nos últimos dias. Achei o Temer, o
Jacques, o Serra, o Palocci, o Moreira, o Jorge, o Jucá, o Garotinho, o
Alckmin, a Kátia, o Imbassahy, o Pezão, o Padilha, o Paes, o Lindbergh, o
Cunha, o Renan, o Geddel, o Eunício, os Maia (Rodrigo, Marco e Agripino). E por
aí vai.
Não descobri o Wally, mas dei com um elenco de identidades
tão criativas quanto as adotadas por bandidos do Rio: o Todo Feio, o Velhinho,
o Decrépito, o Campari, o Boca Mole, o Comuna, o Moleza.
Foi moleza localizar siglas como PMDB, PT, PSDB, PP, PC do
B, PTB, PR, DEM, PSB, PSD, PPS, PTC.
Não topei foi com o Wally.
Como é evidente, não esquadrinhei os desenhos coloridos com
elementos pequenininhos. E sim notícias sobre antigos mandachuvas da Odebrecht
entregando beneficiários de propinas.
E o Wally aqui tem outro nome, Dilma Rousseff.
Deparei-me com uma penca de correligionários dela _será que
o PT continua pensando que o inferno são somente os outros?
Tem até um ex-assessor da Dilma, de sobrenome Dornelles,
como o Velhinho. Um é Anderson; o outro, Francisco. Mas não é dinheiro pedido
ou dado para a ex-presidente.
Na banca, vi uma revista trombeteando que um dono da
empreiteira teria dito que a Dilma mandou pagar 4 milhões à Gleisi.
Desconsiderei, ao reparar que o alto da capa proclama o Temer como
personalidade do ano. Na lista-bomba estourada na sexta-feira, o presidente
fulgura pedindo e levando 10 milhões.
Não notei os nomes do Lula e do Aécio (o ''Mineirinho'',
numa denúncia anterior), mas esses já têm rolos na Justiça e menções de sobra
em delações.
Nem o da Marina, que nunca foi afastada da Presidência, à
qual não chegou em duas tentativas frustradas.
A Dilma, ela sim, foi deposta em nome da decência e do
combate à corrupção. O pretexto foram as ditas pedaladas fiscais. Nenhum centavo
para seu bolso.
A presidente reeleita pelo voto popular em 2014, para um
governo de quatro anos, vive hoje num apartamento de 120 metros quadrados em
Porto Alegre.
Conduziu um desastroso segundo mandato, embora tivesse a
legitimidade proporcionada pelo sufrágio dos cidadãos.
Surpreenderia a Dilma numa futura lista da Odebrecht ou de
outra construtora?
O que é capaz de surpreender hoje?
Colocaria a mão no fogo pela Dilma?
Prefiro não arriscar.
O que não impede a constatação de que, na vasta e pormenorizada
relação nominal divulgada desde a sexta, ninguém encontrou o nome da Dilma.
Talvez ela seja mesmo o Wally e se esconda em algum canto da
página. Não descarto nada.
Por enquanto, há uma certeza: a Dilma foi derrubada por
quem, tudo indica, roubou demais e impôs o impeachment falando em derrotar a
roubalheira.
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