terça-feira, 27 de dezembro de 2016

RISCO PARA O FUTURO DO PLANETA

Christianne Maroun, O Globo
Ao que tudo indica, o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai mesmo cumprir sua promessa de campanha de se lixar para a influência do homem nas mudanças climáticas, especificamente quando o tema é indústria fóssil.
Myron Ebell, seu indicado para a transição na agência de proteção ambiental do país (EPA) é um cético sobre nossa influência no clima do planeta e lendário crítico das tratativas mundiais para mitigar o impacto dos processos da nossa sociedade nessa questão ambiental global.
Mas o quanto isso importa para nós aqui no Brasil — e para o resto do mundo? Para responder a esta pergunta, precisamos analisar o impacto da escolha de Trump sob duas vertentes.
A primeira diz respeito efetivamente às emissões de gases de efeito estufa dos EUA. O país é o segundo maior emissor mundial desses gases, muito devido à economia de consumo que é a base estrutural de crescimento do país. Valorizar a energia fóssil é uma escolha temerária que certamente irá contribuir para o aumento das emissões dos EUA. Considerando que uma molécula de CO2 (o principal gás de efeito estufa em termos de volume) fica de 100 a 200 anos na atmosfera da Terra e se mistura completamente e de forma homogênea, não faz diferença se ela é emitida nos EUA, na África do Sul ou na China. Vai interferir no clima do mundo todo, inclusive no nosso aqui no Brasil.
A segunda vertente, e talvez igualmente importante, é que a EPA sempre foi um exemplo para o mundo. Grande parte de metodologias, estudos e ações efetivamente implementadas nos EUA e no resto do planeta é fruto dos investimentos em estudos científicos, criatividade e pró-atividade da agência norte-americana. Colocar a EPA na geladeira fóssil poderá até ilusoriamente aquecer a economia dos EUA por um tempo, mas o principal aquecimento será o do clima da Terra. E a mudança do clima afeta a economia, e o mais importante: afeta diretamente a vida das pessoas, não só dos EUA como em todo o planeta.
Programas inovadores criados pela EPA, como o Energy Star (1992), que alia a redução de custos à eficiência energética, reduzindo emissões de gases de efeito estufa e economizando bilhões de dólares para os americanos, foram implementados em diversos países do mundo, incluindo o Brasil.
Em 2013 foi lançado o Plano de Mudanças Climáticas dos EUA, uma estratégia com foco na preparação para os efeitos dessas mudanças, redução da poluição de carbono nos EUA e fornecimento de assistência técnica internacional. Um programa recente que poderia nos beneficiar e que pode não ser levado adiante sob a nova direção.
Diante dos fatos atuais, só nos resta torcer para que a sociedade americana se mobilize para resguardar o que vem sendo feito em prol da mitigação das mudanças climáticas.
E torcer também para que a EPA seja uma instituição sólida o suficiente para sobreviver ao governo Trump, sem retrocessos estruturais e com o menor impacto possível nas ações já implementadas com tanto esforço e profissionalismo, ao longo de muitas décadas.
Christianne Maroun é professora do curso de Engenharia Ambiental da PUC-Rio 
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