Há décadas, intelectuais e políticos alertam para a
necessidade de reformas estruturais, sem as quais a nação brasileira
continuaria carecendo de forças de coesão e de dinamismo. Fomos forjados sob o
signo da escravidão e da exclusão, da concentração de renda e da segregação
educacional, usando políticas fisiológicas e patrimonialistas de uma
aristocracia que sobrevive ao Império. Não somos ainda uma República com coesão
nacional. Por falta de coesão, usamos inflação e endividamento público para
atender interesses divergentes. Quando isso se esgotava, usamos ditaduras, para
impor coesão forçada.
Basta olhar ao redor para ver que há um clima de
desagregação no ar: corrupção endêmica; violência urbana generalizada como uma
guerra civil sem ideologias, nem religiões; partidos sem propostas, nem
identidades; políticos sem credibilidade; decisões judiciais precipitadas,
legislando no lugar do Congresso e sendo desrespeitadas por parlamentares.
Some-se a isto, a baixa produtividade e baixa propensão à
poupança, a permanência da desigualdade social, a recessão econômica, o
desemprego catastrófico, o endividamento do Estado, das famílias e das
empresas; a miséria do quadro educacional. Sobretudo, um país dividido em
corporações, sem preocupação com os interesses nacionais de longo prazo, e um
quadro ideológico de sectarização dogmática, sem debate em busca de
alternativas. Um país sem amálgama de longo prazo, perdido no imediatismo de
promessas impossíveis para o futuro e sem qualquer aceitação para os
necessários sacrifícios no presente.
Mas o Brasil não pode continuar adiando sua coesão. Deve
entender e querer superar o risco da desagregação, abrir diálogo entre o que
ainda resta de líderes, independente de terem votos e serem políticos,
reconhecer e convocar o país para enfrentar as dificuldades imediatas: levar
adiante e com todo rigor as operações da luta contra a corrupção; realizar as
reformas que o país precisa para liberar seu futuro: fiscal, progressista e sem
as brechas que beneficiam aos ricos, trabalhista, previdenciária, propondo
também as necessárias reformas estruturais sempre adiadas: garantia de terra
para quem dela ainda precisa no campo; eficiência da máquina do Estado para
dar-lhe baixo custo e para servir com qualidade aos usuários dos serviços
públicos; transformação educacional, para assegurar a toda criança escola com a
mesma qualidade que o Brasil precisa para aglutinar e desenvolver sua sociedade
e economia.
Esta é a proposta que podemos tentar em 2017: barrar o atual
rumo da decadência e da desagregação, iniciando um novo rumo para o Brasil.
Cabe aos atuais líderes convocar a população para uma aglutinação em torno aos
sacrifícios de hoje, com esperança nos benefícios futuros. Sem isso, que é
difícil de realizar, vamos cair na desagregação ou antecipar eleições gerais,
para todos os cargos federais, na tentativa de fazer a necessária aglutinação
por novos líderes com credibilidade.
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