Da ISTOÉ
Silas Lima Malafaia “se locupletou com valores de origem
ilícita”. Com esse contundente despacho, a Polícia Federal – em relatório de
conclusão de inquérito obtido com exclusividade por ISTOÉ – indiciou o pastor
da Assembleia de Deus por lavagem de dinheiro e participação num esquema de
corrupção ligado a royalties da mineração.
Em 16 de dezembro, Malafaia havia sido alvo de condução
coercitiva pela Operação Timóteo. O nome da operação se baseia em um dos livros
do Novo Testamento da Bíblia, a primeira epístola a Timóteo. No capítulo 6,
versículos 9-10, está escrito: “Os que querem ficar ricos caem em tentação, em
armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a
mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos
os males”. A Polícia Federal transcreveu o trecho na representação judicial que
deu origem à operação. Pelo visto, para o delegado Leo Garrido de Salles Meira,
autor do indiciamento, Silas Malafaia caiu em tentação. Agora, o pastor,
proverbial arauto da moral e dos bons costumes, terá de explicar aos seus fiéis
seguidores porque se dobrou aos pecados da carne.
A investigação detectou que um cheque do escritório de
advocacia de Jader Pazinato, no valor de R$ 100 mil, foi depositado na conta de
Malafaia. Pazinato, segundo a PF, teria recebido recursos ilícitos desviados de
prefeituras e repassado propina, por isso também foi indiciado por corrupção
ativa e peculato. O indiciamento significa que a autoridade policial encontrou
elementos para caracterizar a ocorrência de crimes. Além de Malafaia, a PF
indiciou outros 49 investigados, dentre eles o ex-diretor do DNPM Marco Antônio
Valadares e Alberto Jatene, filho do governador do Pará, Simão Jatene.
Em entrevista concedida após sua condução coercitiva, Malafaia
argumentou que um colega de outra igreja apresentou-o a um empresário que
queria lhe fazer “uma oferta pessoal”, depositada em sua conta. “Não sou
bandido, não tô envolvido com corrupção, não sou ladrão”, declarou à época.
Procurado, o advogado de Pazinato, Daniel Gerber, preferiu não comentar.
Ex-dirigente do DNPM, Marco Antônio Valadares foi indiciado
como líder da organização criminosa, acusado de corrupção passiva e peculato,
dentre outros crimes. Seu advogado, Fernando Brasil, nega o envolvimento com
corrupção. “Ele foi vítima de um relatório fantasioso, baseado na divergência
de valores entre o seu salário e a aquisição de um imóvel”, disse. O episódio
envolvendo Alberto Jatene também chamou a atenção dos investigadores. Assessor
jurídico do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do
Pará, ele recebeu R$ 750 mil de Pazinato nas contas de suas empresas. Para o
delegado Leo Garrido, o pagamento foi efetuado por que o cargo ocupado por ele
poderia render “facilidades” ao grupo criminoso. Com base nesses elementos, a
PF indiciou Alberto Jatene por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
organização criminosa.
Organização criminosa
Segundo o relatório da PF, contratos fraudulentos com
prefeituras eram usados para desviar recursos de arrecadação da mineração. Para
isso, eram usadas empresas e escritórios de advocacia. “Considerando toda a
engrenagem criminosa, com estrutura ordenada que passa por quatro etapas
distintas – da captação dos contratos até o branqueamento dos valores – tendo
os personagens de cada uma delas funções específicas, concluímos que são fartos
os indícios da existência de verdadeira ORCRIM (organização criminosa),
responsável pelo desvio de pelo menos R$ 66 milhões”, escreveu o delegado.
Outra associação religiosa, a Igreja Embaixada do Reino de Deus, também recebeu
valores de Pazinato: R$ 1,7 milhão, segundo a PF.
O relatório policial foi enviado ao Ministério Público
Federal. A partir dele, caberá ao procurador Anselmo Lopes decidir se apresenta
ou não denúncia à Justiça. Um fato novo no decorrer das investigações, porém,
vai tornar mais lento o seu desfecho. O inquérito foi enviado ao Superior
Tribunal de Justiça por indícios do envolvimento de autoridades com foro
privilegiado. Foram detectados pagamentos do grupo criminoso a familiares do
conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Pará, Aloísio Chaves, que
os investigadores suspeitam terem relação com autorizações obtidas no tribunal.
Os parentes de Aloísio foram indiciados. Como conselheiros de tribunais de
contas têm foro privilegiado, o caso subiu para a corte especial do STJ. Os
autos chegaram no dia 17 de janeiro e foram distribuídos ao ministro Raul
Araújo. As investigações, agora, ficam a cargo do vice-procurador geral da
República, Bonifácio de Andrada.
A raiz de todos os males
A PF usou passagens bíblicas para dizer que o pastor Silas
Malafaia “caiu em tentação” ao se locupletar de dinheiro ilícito
A trama
A Polícia Federal indiciou 50 pessoas por envolvimento em um
esquema de corrupção e desvios de impostos sobre mineração, cujos valores
envolvidos somam ao menos R$ 66 milhões. O caso foi batizado de Operação
Timóteo
Silas Malafaia
Pastor foi indiciado por lavagem de dinheiro por ter
recebido R$ 100 mil de um escritório de advocacia que estava no centro do
esquema de corrupção
Marco Antônio Valadares Moreira (ex-diretor do DNPM)
Responde por corrupção passiva, peculato e lavagem de
dinheiro. É considerado o líder da organização criminosa
Alberto Jatene (filho do governador do Pará Simão Jatene)
Foi incluído no relatório da PF por corrupção passiva e
organização criminosa. Recebeu R$ 750 mil de um dos escritórios envolvidos
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