Do UOL
O chanceler José Serra (PSDB-SP) entregou nesta quarta-feira
(22) carta pedindo demissão do Ministério de Relações Exteriores. A informação
foi confirmada pelo Palácio do Planalto. O ministro alegou problemas de saúde
para pedir a exoneração do cargo.
Em carta divulgada pelo governo, Serra, 74, afirma que pede
demissão "em razão de problemas de saúde que são do conhecimento de Vossa
Excelência, os quais me impedem de manter o ritmo de viagens internacionais
inerentes à função de Chanceler."
Serra entregou a carta pessoalmente a Temer, no Palácio do
Planalto. Ele afirma que "segundo os médicos, o tempo para
restabelecimento adequado é de pelo menos quatro meses." Não há detalhes
sobre a doença do ex-ministro. Mas no fim de dezembro, Serra foi submetido a
uma cirurgia de descompressão e artrodese da coluna cervical.
O ex-ministro, que é do PSDB, informou ainda que retorna ao
Congresso, onde afirma que honrará seu mandato de senador "trabalhando
pela aprovação de projetos que visem a recuperação da economia, desenvolvimento
social e a consolidação democrática do Brasil".
Serra, que assumiu o ministério em maio de 2016, tem mandato
de senador até 2022, mas se afastou do cargo para assumir a chancelaria,
indicado pelo presidente Michel Temer (PMDB). Ele substituiu Mauro Vieira,
diplomata de carreira.
Além de senador, Serra já foi prefeito de São Paulo e
governador do Estado e candidato à Presidência da República duas vezes. Em
2012, concorreu à Prefeitura de São Paulo, mas foi derrotado por Fernando
Haddad (PT-SP).
Com a saída de Serra do Ministério de Relações Exteriores, o
PSDB fica com três ministros no governo do presidente Michel Temer: Bruno
Araújo, na pasta de Cidades; Antonio Imbassahy, que ocupa a Secretaria de
Governo; e Luislinda Valois, ministra dos Direitos Humanos. Além de Serra, o
partido perdeu ainda o Ministério da Justiça, com a nomeação de Alexandre de
Moraes para o STF (Supremo Tribunal Federal).
Segundo uma fonte do governo, Serra planejava indicar o
atual embaixador em Washington, Sérgio Amaral, para assumir seu lugar. Também
estariam no páreo o atual secretário-geral do Itamaraty, Marcos Galvão, e
Rubens Barbosa, que já tinha sido cogitado no início do governo. Há relatos
ainda de que Aloysio Nunes e José Aníbal, ambos do PSDB, também são citados
como favoritos ao cargo.
Atuação como chanceler
A gestão de Serra à frente da diplomacia brasileira foi
marcada pelas críticas ao governo venezuelano, considerado por ele "sem
esperança" de uma melhor relação com o Brasil sob governo do presidente
Nicolás Maduro. Os dois países convocaram seus embaixadores para consultas após
o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em julho, Serra também disse que não queria nem pensar na
hipótese de Trump ser o novo presidente americano. Em entrevista ao programa
"Canal Livre", da TV Bandeirantes, Serra disse que não queria sofrer
por "antecipação" pensando na vitória do magnata norte-americano e
que, caso ele fosse eleito, teria de "ver, pragmaticamente, o que
fazer". Após a vitória do magnata, o ex-chanceler disse que "Treino é
treino, jogo é jogo. O treino é a campanha. O jogo começa agora", em
referência à vitória do republicano.
Serra ainda representou o Brasil no funeral do ex-presidente
cubano Fidel Castro em Havana e na homenagem que o Atlético Nacional fez à
Chapecoense em Medellín, na Colômbia. Na ocasião, o ex-chanceler fez um
discurso emocionado. "De coração, muito obrigado. Os brasileiros não
esqueceremos a forma como os colombianos sentiram como seu o terrível desastre
que interrompeu o sonho da equipe da Chapecoense, uma espécie de conto de fadas
com final de tragédia", afirmou o chanceler, que chorou.
Citado na Lava Jato
Mesmo após pedir demissão do ministério, Serra mantém a
prerrogativa de ser julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) caso venha a
responder a inquéritos na operação Lava Jato, em que é citado por delatores.
Isso porque, ao deixar o Executivo, Serra reassume sua cadeira no Senado.
Serra é um dos citados nas delações da construtora
Odebrecht. O senador estaria ligado a um esquema de caixa dois em sua campanha
presidencial no ano de 2010.
Executivos da Odebrecht afirmaram aos investigadores da Lava
Jato que a campanha do ex-ministro recebeu R$ 23 milhões em doações ilícitas.
Os executivos disseram que parte do dinheiro foi entregue no Brasil e parte foi
paga por meio de depósitos bancários realizados em contas no exterior.
Oficialmente, a Odebrecht doou apenas R$ 2,4 milhões para a campanha de Serra.
Segundo os depoimentos de executivos da Odebrecht, a
negociação para o repasse à campanha de Serra se deu com a direção nacional do
PSDB à época, que, depois, teria distribuído parte do dinheiro entre outras
candidaturas. A empresa afirmou ainda que parte do dinheiro foi transferida por
meio de uma conta na Suíça.
Sobre a acusação da Odebrecht, Serra disse, na época em que
o fato foi divulgado, que a campanha dele durante a disputa a Presidência da
República em 2010 foi conduzida em acordo com a legislação eleitoral em vigor.
O tucano afirmou também que as finanças de sua disputa pelo Palácio do Planalto
eram de responsabilidade do partido, o PSDB, e que ninguém foi autorizado a
falar em seu nome.
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