Em seu depoimento de quatro horas ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) nesta quarta-feira, dia 1º, o delator e ex-presidente da Odebrecht
Marcelo Odebrecht relatou que o presidente nacional do PSDB, senador Aécio
Neves, teria lhe pedido R$ 15 milhões no final do primeiro turno da campanha
eleitoral de 2014.
O delator depôs na Ação de Investigação Judicial Eleitoral
aberta a pedido do PSDB contra a chapa Dilma/Temer. Ele disse que,
inicialmente, negou o pedido do tucano afirmando que o valor era muito alto,
mas que o senador teria sugerido como "alternativa" que os pagamentos
fossem feitos aos seus aliados políticos.
Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira, o PSDB
defendeu a legalidade da doação. O partido afirmou que o valor de R$ 15 milhões
foi doado oficialmente pelo grupo à campanha que tentou eleger Aécio em 2014 e
que as doações feitas pela Odebrecht à campanha de Aécio foram declaradas à
Justiça Eleitoral.
O conteúdo do depoimento de Marcelo Odebrecht está sob
sigilo. A versão oficial só será divulgada pelo TSE após o STF (Supremo
Tribunal Federal) liberar o conteúdo das 77 delações de ex-executivos da
Odebrecht, homologadas pela Justiça em janeiro. A ação pode levar à perda de
mandato do presidente Michel Temer (PMDB).
Após ser preso na Lava Jato, contudo, Odebrecht disse ter
sido informado que o aporte financeiro acabou não se concretizando. Ainda
assim, segundo ele, teria ficado definido no encontro com Aécio que o repasse
seria discutido entre Sérgio Neves, que era superintendente da empresa em
Minas, e o empresário Oswaldo Borges da Costa, apontado como tesoureiro
informal do tucano. Em seu relato, Odebrecht disse que só se recorda de doações
oficiais Aécio.
O valor bate com a planilha e a troca de mensagens de
Odebrecht apreendidos pela Lava Jato e que mostram o repasse de R$ 15 milhões
do departamento de propina da empreiteira ao apelido "mineirinho"
que, segundo o delator Claudio Melo Filho, era uma referência a Aécio.
Odebrecht respondeu sobre o tucano quando questionado pela
defesa da presidente cassada Dilma Rousseff - de acordo com os advogados,
questionar doações para o PSDB fazia parte da estratégia da petista. À Justiça
Eleitoral, a campanha do senador mineiro registra doações que somam R$ 3,9
milhões da Construtora Odebrecht e R$ 3,9 milhões da Braskem, petroquímica do
grupo empresarial. Ao todo, o PSDB recebeu R$ 15 milhões da Odebrecht em
doações eleitorais em 2014.
O delator, contudo, não se aprofundou mais sobre o assunto,
pois o juiz auxiliar que estava conduzindo a audiência pediu a Marcelo que se
limitasse ao objeto da Ação Judicial Eleitoral - repasses para a chapa
Dilma-Temer, que venceu as eleições de 2014.
Além destes R$ 15 milhões, o empreiteiro contou que se
encontrou várias vezes com o tucano, e que Aécio sempre pediu dinheiro para
campanhas. Em relação aos repasses para a campanha tucana em 2014, o delator
disse que se lembrava mais especificamente de três ocasiões - uma doação para o
PSDB na época da pré-campanha, uma de cerca de R$ 5 milhões durante a campanha,
e o pedido no final do primeiro turno de R$ 15 milhões.
Na versão do empreiteiro, o contato da Odebrecht com Aécio
para tratar da campanha era mais difuso do que com Dilma e feito com a base das
empresas do grupo em Minas, Estado do senador.
'Mineirinho'
A versão de Marcelo Odebrecht coincide com documentação
encontrada pela Lava Jato em Curitiba. No pedido de busca e apreensão da
Polícia Federal na 26.ª fase da operação, a Xepa, "Mineirinho" é
apontado como destinatário de R$ 15 milhões entre 7 de outubro e 23 de dezembro
de 2014. As entregas, registradas nas planilhas da secretária Maria Lúcia
Tavares, do Setor de Operações Estruturadas - conhecido como o
"departamento de propina" da Odebrecht - teriam sido feitas em Belo
Horizonte, capital de Minas.
A quantia foi solicitada em 30 de setembro de 2014, na
véspera do primeiro turno, por Sérgio Neves, a Maria Lúcia, que fez delação e
admitiu operar a "contabilidade paralela" da empresa a mando de seus
superiores. O pedido foi intermediado por Fernando Migliaccio, ex-executivo da
empreiteira que fazia o contato com Maria Lúcia e que foi preso na Suíça.
Outro lado
O PSDB destacou na nota divulgada na tarde desta
quinta-feira que o depoimento de Odebrecht não faz qualquer menção a uma
contribuição via caixa dois à campanha e ainda citou que isso ficará claro após
o fim do sigilo imposto às declarações do empreiteiro.
"Sobre o conteúdo do depoimento do empresário Marcelo
Odebrecht ontem ao TSE, a assessoria esclarece que em nenhum momento Marcelo
Odebrecht disse ter feito qualquer contribuição de caixa dois à campanha
eleitoral do partido em 2014, o que ficará demonstrado após o fim do sigilo
imposto às declarações", diz a nota. "R$ 15 milhões foi o valor doado
oficialmente pelo grupo Odebrecht à campanha do PSDB de 2014", destaca o
texto.
Do Estadão Conteúdo, via UOL
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