Tão nauseabunda quanto a tentativa patética dos seguidores
do PT de naturalizar a escandalosa relação do ex-presidente Lula e dos seus
principais assessores com a empreiteira Odebrecht, aí incluída a ex-presidente
Dilma, é a maneira quase debochada como o patriarca do grupo, Emílio Odebrecht,
surge nos vídeos, contando, com um permanente sorriso, suas peripécias nos
bastidores dos governos petistas, peemedebistas, tucanos.
Misturando alhos com bugalhos, Emílio diz que sempre agiu
assim, como se a corrupção que dominava as relações empresariais no país não
tivesse mudado de patamar nos anos petistas.
Da mesma maneira, a maioria dos executivos da maior empreiteira do país
aparecem nos vídeos com uma postura acafajestada de quem se acostumou a
chafurdar na lama.
Estamos vendo as vísceras de políticos decaídos, de
empresários que abriram mão de competir legalmente, de lucrar com a
produtividade de suas empresas, para pilhar o Estado brasileiro. Há relatos de
atos de lesa pátria escandalosos, mais uma vez em prejuízo da estatal
Petrobras; de favorecimento de uma empresa em detrimento de outra pelo
pagamento de propina; eram, enfim, governos a serviço de interesses privados
para garantir o controle do poder político permanente no país.
O patriarca, que tinha sempre a seu lado um advogado que não
conseguia deixar de sorrir, como se estivesse se deliciando com as histórias do
chefe, recebeu em boa hora uma lição de moral de um de seus interrogadores,
para deixar de naturalizar os atos de corrupção que relatava como sendo o mais
normal dos procedimentos.
O promotor Sérgio Bruno Cabral Fernandes perdeu a paciência
com essa naturalização dos atos criminosos por parte de Emilio Odebrecht e
admoestou-o, como destacou O Globo em seu noticiário:
"São 300 milhões que foram gastos sei lá com o que,
seja com campanha, com santinho, com tempo de televisão, com marqueteiro, que
podia ter sido (gasto) construindo escola, hospital e todo esse Brasil que o
senhor sonha e quer viver. Esse dinheiro poderia estar lá. Então vamos agora
deixar de historinha, de conto de fada, e falar as coisas como elas são. Está
na hora da gente dizer a verdade, de como a coisa suja é feita. Não é possível
que um ministro da Fazenda fique pedindo todo mês (dinheiro) a um empresário.
Isso não é admissível. Por mais que a gente esteja acostumado com isso, isso
não é o correto e o senhor sabe disso."
Antes que os fatos fizessem seus argumentos fajutos virarem
pó, Emilio Odebrecht dizia a interlocutores que nem Marcelo nem seus executivos
fariam delação premiada por que esse procedimento não se coadunava com os
“valores” da empresa. E falava sério, numa demonstração de que vive em um mundo
da fantasia.
Da mesma maneira, resolveu em um dos depoimentos cobrar da
imprensa, genericamente, uma explicação para o fato de estarem fazendo uma
cobertura ampla dos acontecimentos quando, segundo ele, todos sabiam que as
coisas aconteciam assim há anos. Por que só agora? perguntou, numa tentativa
ridícula de insinuar que havia uma conspiração contra sua empresa ou contra o
PT. Ou contra os dois.
Foi outra vez admoestado, quando um dos procuradores disse
que “sempre era hora de começar”. O empreiteiro finge não saber que todas essas
denúncias surgiram por que pela primeira vez no Brasil usou-se nas
investigações de crimes o instrumento da delação premiada. Foi através dela, e
só assim seria possível, que se provaram todas as acusações que, segundo
Emilio, todo mundo sabia que acontecia há anos.
Sem provas, não há possibilidade de denunciar efetivamente
qualquer esquema desses. Várias vezes surgiram na imprensa denúncias de
licitações fraudulentas, de corrupção em diversos governos, mas raramente se
conseguia chegar a uma punição dos responsáveis, ou por que os parlamentares
tinham foro privilegiado e se beneficiavam disso, ou por que os sucessivos
recursos judiciais permitiam que se levasse um processo até que ele
prescrevesse.
Outra novidade, que aconteceu em meio às investigações da
Operação Lava Jato e muito ajudou na decisão de fazerem suas delações,
inclusive os membros da própria Odebrecht, foi a prisão em segunda instância,
quebrando a possibilidade de levar os processos ao infinito, sem se chegar a
uma punição. O país mudou, e pelo visto Emilio Odebrecht não mudou com ele.
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