Editorial O Estado de S.Paulo
Os petistas, há muito tempo, especializaram-se em insultar a
inteligência alheia, seja quando garantiam ser o baluarte da ética na política,
enquanto seus dirigentes já tramavam o assalto ao erário assim que chegassem ao
poder, seja ao louvar as “conquistas” dos governos de Lula da Silva e de Dilma
Rousseff, no momento em que o País tenta a duras penas recolher o que restou da
economia depois de estraçalhada pela dupla. Nos últimos tempos, os petistas
levaram essa expertise a níveis inéditos para defender, contra carradas de
evidências, a inocência de Lula da Silva e de Dilma Rousseff.
O último a fazê-lo foi o ex-ministro da Justiça José Eduardo
Cardozo, que, em entrevista ao jornal O Globo, tentou desmentir a delação do
casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, responsável pelas campanhas
eleitorais de Lula em 2006 e de Dilma em 2010 e 2014. Como se sabe, Santana e
Mônica disseram à Justiça que Dilma não apenas sabia do uso de dinheiro
proveniente de caixa 2 em sua campanha, como tratou pessoalmente do assunto com
eles. Na versão de Cardozo, essa informação é “totalmente inverossímil”, porque
“a orientação da Dilma era muito clara” para que se recusasse dinheiro de caixa
2. Ao que João Santana, em nota, respondeu: “Pra cima de mim, José Eduardo?”.
Os brasileiros honestos, que lutam para pagar suas contas em
dia, certamente farão suas as palavras do marqueteiro. A frase acima,
trocando-se apenas o nome do personagem, aplica-se a qualquer um dos sabujos e
rábulas dedicados a convencer os incautos de que Lula e Dilma não passam de
virginais servidores do povo, pobres vítimas das tramoias das “elites”
interessadas especialmente em impedir que o chefão petista seja candidato à
Presidência em 2018.
A realidade, porém, insiste em desmentir a obscena versão
dos petistas. Depois que Lula garantiu ao juiz federal Sérgio Moro que se
encontrou apenas duas vezes com diretores da Petrobrás posteriormente implicados
na Lava Jato, o Ministério Público Federal apresentou documentos que indicam
que, quando ainda era presidente, ele se reuniu nada menos que 23 vezes com
esses executivos. Diante dessas evidências, os advogados do petista
limitaram-se a se queixar de que o Ministério Público, “ao contrário da defesa
do ex-presidente Lula”, tem acesso irrestrito a documentos da Petrobrás.
Ao mesmo tempo, enquanto Lula e sua trupe vão até a ONU para
denunciar a “perseguição política” de que o ex-presidente se diz vítima, aparecem
fotografias do petista em animado encontro, no tal sítio de Atibaia do qual ele
jura não ser dono, com o empreiteiro Léo Pinheiro. Em delação, Pinheiro
informou à Justiça que bancou a reforma não apenas daquele sítio, mas de um
triplex no Guarujá que Lula também garante não lhe pertencer, como forma de
pagar propina em troca de contratos da Petrobrás.
A defesa de Lula afirma que os documentos trazidos por Léo
Pinheiro são mais uma tentativa de “agradar os procuradores” em troca de
“benefícios”. Dilma foi na mesma linha ao questionar o depoimento de João
Santana e Mônica Moura, que a implicaram também em obstrução de Justiça. A
ex-presidente disse que o casal recorreu a “versões falsas e fantasiosas” para
obter liberdade e redução de pena. Mais uma vez, João Santana – o mago do
marketing que conseguiu a façanha de eleger duas vezes como presidente uma
completa incompetente, na base de mentiras deslavadas – não deixou barato:
“Afirmo que as únicas vezes que menti sobre a presidente Dilma – e isso já faz
algum tempo – foi para defendê-la”.
Seria ingenuidade esperar que Lula e Dilma simplesmente
admitissem os crimes que lhes são atribuídos. Ao negar tudo, ambos apenas
exercem seu direito de defesa, e qualquer julgamento deve respeitar,
obviamente, a letra da lei. Mas os ex-presidentes petistas não se limitam a
negar as acusações. Eles querem fazer acreditar que os processos em que estão
envolvidos são parte de uma conspiração política contra o povo, porque ambos se
consideram encarnações da própria democracia. A cada nova evidência de que Lula
e Dilma não são o que dizem ser, no entanto, esse esforço se torna apenas, e
cada vez mais, patético.
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