domingo, 7 de maio de 2017

ROBERTO CAMPOS VIVE

Gustavo Krause, Blog do Noblat
O quase padre Roberto Campos cometeu o pecado capital de pensar com brilho, liberdade e coragem de enfrentar a maré montante do marxismo. Dizia: “Tendo abandonado o dogma religioso, dificilmente me deixaria seduzir pelo dogma político”. A exemplo de José Guilherme Merquior, dileto amigo, sequestrado pelas Parcas aos 49 anos, Roberto Campos impressionava não pela absorção das leituras, mas pelo metabolismo das ideias.
Para os sacerdotes da verdade revelada do igualitarismo, era um herege. Na ausência da fogueira inquisitorial, foi injuriado com rótulos de “entreguista” e “Bob Fields”. Com ironia fina e argumento contundente, reconhecia nos patrulhadores de todos os matizes, a capacidade incomum de cooptar idiotas, chamando-os de “progressistas” e intimidar patriotas chamando-os de “entreguistas”.
Mas o campo de Roberto era a elegante disputa dialética no espaço das ideias. Entre os que discordavam, devotou respeito e admiração, como foi o caso de Celso Furtado e San Tiago Dantas a quem definiu como um homem de “esquerda positiva” em contraste com a “esquerda populista” de Brizola.
A despeito da visão liberal, houve um tempo em que acreditou no planejamento estatal (BNDE, PLANO DE METAS, PAEG, FGTS) que, paulatinamente, capturado pelos vícios patrimonialistas, levou-o a confessar a Delfim Netto “Perdi muito tempo lendo, bastava ler Hayek” (Nobel de economia, escola austríaca e pai do neoliberalismo). Em contrapartida, lutou tenazmente contra o monopólio da Petrobras (a quem chamou de Petrossauro), definindo-o como “um pecado à lógica econômica” e contra a autonomia tecnológica em informática que qualificou “como uma solene estupidez, pois significou uma taxação da inteligência e uma subvenção à burrice dos nacionalistas e à safadeza de empresários cartoriais”.
Por coincidência, recente publicação da pesquisa qualitativa realizada pela Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, no período de 22\11\16 – 05\12\17, periferia de São Paulo famílias de renda até cinco salários, revela o inesperado imaginário popular: o adversário da prosperidade não é a burguesia e, sim, um Estado ineficiente; a ruptura do círculo da pobreza é a criação de oportunidades conquistadas pela meritocracia, concorrência e ambiente propício ao empreendedorismo.
Para quem pregou no deserto, a coincidência soa como presente de aniversário, recebido com um sorriso maroto do polemista e uma tirada do tipo: eis aí “o liberalismo dos pobres”!
O título do livro organizado por Ives Gandra e Rabello de Castro acertou em cheio: Campos era uma “Lanterna de Proa”. Acesa.
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