Cristovam Buarque, Blog do Noblat
Houve um tempo em que os políticos debatiam qual o melhor
caminho para o progresso, hoje discute-se como o Brasil pode oferecer escadas
mais fáceis para permitir ascensão social aos grupos com poder de pressão no
uso dos recursos públicos. Procura-se beneficiar indivíduos, não o país. A
discussão sobre as reformas, trabalhista e previdenciária, é exemplo deste
desvio da estratégia do “caminho” para a estratégia da “escada”.
Cada grupo estuda e defende suas posições, favoráveis ou
contrárias às reformas, não em função de qual será o melhor caminho para
desamarrar o Brasil e permitir caminhar para o aumento de nossa eficiência,
produtividade, justiça, independência, sustentabilidade, incentivo aos jovens,
proteção aos velhos, pobres e doentes; mas em função de como evitar perdas para
seu grupo, ou para conseguir aumentar seus benefícios ou seus votos. Busca-se
escadas para indivíduos, não caminhos para o conjunto do país.
Este não é um fenômeno novo. Em reação aos anos de chumbo da
ditadura, durante a elaboração da Constituição decretou-se mais direitos do que
deveres. Desde a luta pela democracia, que buscava definir os rumos para o
país, o debate político perdeu a discussão de quais os melhores caminhos para
todos os brasileiros e se concentra até hoje, salvo exceções, em quais são as
escadas para servir a cada grupo e cada indivíduo.
Até mesmo boas políticas para corrigir injustiças têm sido
definidas mais para atender interesses de grupos do que para formar
compromissos com o país: preferimos o uso de cotas para ingresso na
universidade, do que o caminho mais ambicioso de assegurar a educação de base
com a mesma qualidade para brancos e negros, pobres e ricos.
Nos contentamos com um programa justo de assistência por
meio de transferência de renda para cada família pobre, no lugar de uma
estratégia ousada para fazer a emancipação da população pobre e ninguém
precisar de bolsas. O Ciência Sem Fronteiras foi mais orientado para beneficiar
jovens do que para construir um potente sistema de ciência e tecnologia a
serviço de todo o país e seu futuro.
A operação Lava-Jato e a Lei da Ficha Limpa têm a grande
vantagem de tirar escadas para a eleição de políticos corruptos, mas não vai
construir o caminho para a escolha de políticos honestos. Felizmente, já temos
o sistema judiciário que prende corruptos, mas ainda não formamos uma massa de
eleitores capazes de eleger políticos honestos.
O Brasil precisa sair da discussão de escadas que atendem a
interesses de grupos e fazer o debate sobre quais são os melhores caminhos para
o futuro desejado. Mas isto é difícil porque, no lugar de buscar construir
coesão nacional, preferimos continuar a política de atender corporações,
sindicatos, associações, grupos. Não percebemos que esta falta de coesão é a
principal causa de nossos problemas e frustrações: porque sem coesão, política
e social, não vamos definir um rumo para o conjunto de nosso povo e nossa
nação.
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