quinta-feira, 22 de junho de 2017

FUNCIONÁRIOS VAGABUNDOS

Do O Estado de S.Paulo

A divulgação de uma conversa do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, com sindicalistas gerou mal estar na empresa, a ponto de o executivo se ver obrigado a gravar uma fala na televisão interna da empresa pedindo desculpa pela "veemência" com que se referiu ao que considera "privilégios" na empresa. Por conta dos adjetivos "vagabundos" e "safados" usados pelo presidente para tratar de chefias da Eletrobrás, a Associação dos Empregados da Eletrobrás (Aeel) promoveu nesta quinta-feira, 22, paralisação de 24 horas.

"Lá em cima na cabeça, como tudo que tinha aqui. São 40% da Eletrobrás. 40% de cara que é inútil, não serve para nada, ganhando uma gratificação, um telefone, uma grava de garagem, uma secretária. Vocês me perdoem. A sociedade não pode pagar por vagabundo, em particular, no serviço público", traz um trecho de cinco áudios amplamente divulgados nos celulares dos funcionários nas duas últimas semanas.

Em outro trecho da conversa , o presidente diz que há na estatal muito mais gerente do que deveria. "Temos um monte de safado, lamentavelmente, que ganha lá 30, 40 pau. Tá lá em cima, sentadinho. O cara nem aí com a situação sua, que está querendo que você (sindicalista) venha aqui e me arrume um jeito de arranjar um PAE pra ele, para que ele ganhe uma fortuna, que ele sabe que está fora. E tem muito", traz o áudio.

Em resposta ao Broadcast, a Eletrobrás afirmou que Ferreira Júnior "reconhece que usou algumas expressões rudes", por isso, fez questão de gravar o vídeo pedindo desculpa.

"Cabe esclarecer, porém, que os áudios foram tirados do contexto. O presidente estava apresentando aos sindicatos a reestruturação da companhia, com o respectivo corte de cargos comissionados, o Plano de Aposentadoria Extraordinária (PAE), a privatização das distribuidoras e um futuro Plano de Incentivo ao Desligamento, quando o Centro de Serviços Compartilhados (CSC) estiver implementado", traz a nota da Eletrobras. O CSC é uma plataforma tecnológica que deve gerar sinergia de atividades em todo o grupo, o que permitirá à empresa manter a produção com menos funcionários.

O plano de reestruturação financeira da Eletrobrás prevê o enxugamento do quadro de funcionários, de cerca de 23 mil para cerca de 12 mil, com a venda das distribuidoras (6 mil deixariam o grupo) e com plano de desligamento de empregados (5 mil). Além disso, desde o ano passado, a empresa está em processo de reestruturação interna. Foi extinto um nível hierárquico e reduzido em 53,9% o número de cargos comissionados, como gerentes, assistentes e assessores. A redução das chefias aconteceu na controladora, mas, a ideia é, neste ano, estendê-la às subsidiárias.

Durante a conversa com os sindicalistas, Ferreira Júnior tenta convencê-los de que as reivindicações apresentadas por eles favoreceriam funcionários que vivem em situação de privilégio. Os sindicalistas respondem então que as chefias privilegiadas "têm padrinhos" e que as mudanças trabalhistas que estão sendo implementadas "pega" para os demais, ao que o presidente emendou: "não, não vai pegar".

Em nota, a Eletrobrás informou ainda que os "sindicalistas ameaçaram entrar na Justiça contra as privatizações e se mostraram contrários ao plano de desligamento voluntário para o CSC". A empresa afirma também que "o presidente elencou diversas situações inaceitáveis dentro de uma empresa do porte da Eletrobrás, como falta de comprometimento de alguns gerentes, descaso com as metas da companhia e, até mesmo, fraudes envolvendo o sistema de catracas, que registram o ponto. Por isso, com o intuito de alertar aos sindicatos para que eles também se manifestem contra esse tipo de comportamento indevido, o presidente usou de maior veemência".

Na paralisação de hoje, o funcionários reivindicam também o pagamento da participação no lucro de R$ 3,4 bilhões de 2016, previsto no acordo coletivo, e reclamam do que consideram o desmonte da Eletrobrás, por conta do incentivo à saída de 5 mil funcionários. Segundo a empresa, "a companhia pode realizar o pagamento até 31 de dezembro do corrente ano e está negociando o calendário de pagamento".
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