Do G1, Paraná RPC
O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao juiz Sérgio Moro,
nesta sexta-feira (3), que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros
seis réus sejam condenados pelos crimes de corrupção passiva, ativa e lavagem
de dinheiro e que cumpram as respectivas penas em regime fechado.
O pedido consta nas alegações finais do processo que apura
um suposto pagamento de propina por parte da OAS, por meio da entrega de um
apartamento triplex no Guarujá, litoral paulista.
O MPF diz que o apartamento seria entregue a Lula, como
contrapartida por contratos que a OAS fechou com a Petrobras, nos anos em que o
político foi presidente da República. Também faz parte da denúncia o pagamento
que a OAS fez à transportadora Granero, para que a empresa fizesse a guarda de
parte do acervo que o ex-presidente recebeu ao deixar o cargo.
“Quem oculta ser proprietário de um bem proveniente de
crime, pratica lavagem de dinheiro. Como provado no presente caso, sendo o
triplex no Guarujá destinado ao réu LULA pela OAS a partir dos crimes de
corrupção contra a Administração Pública Federal, sobretudo contra a Petrobras,
esconder que o réu LULA é o proprietário do imóvel configura o crime. Dizer que
“não há escritura assinada” pelo réu LULA é confirmar que ele praticou o crime
de lavagem de dinheiro", diz um trecho do documento.
Entre os réus, também estão o ex-presidente da OAS, José
Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, e outros executivos da
construtora, que foram acusados de lavagem de dinheiro e corrupção ativa. A
ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva também era ré, mas teve nome
excluído da ação penal após a morte dela, em fevereiro deste ano.
Embora tenha pedido que todos sejam presos, o MPF diz que
Léo Pinheiro, Agenor Franklin Medeiros e Paulo Gordilho, devem ter as penas
reduzidas pela metade, "considerando que em seus interrogatórios não
apenas confessaram ter praticado os graves fatos criminosos objeto da acusação,
como também espontaneamente optaram por prestar esclarecimentos relevantes acerca
da responsabilidade de coautores e partícipes nos crimes, tendo em vista,
ainda, que forneceram provas documentais acerca dos crimes que não estavam na
posse e não eram de conhecimento das autoridades públicas".
Os procuradores ainda ressaltaram que nenhum deles fez
acordo de delação premiada, embora tenham reconhecido durante os respectivos
depoimentos, que todos estavam em tratativas para fechar as colaborações.
No pedido, o MPF também quer que Moro determine a apreensão
de R$ 87.624.971,26. O valor é correspondente ao montante de propinas que foram
pagas nos contratos que a OAS firmou junto à Petrobras a agentes públicos.
Desse montante, Lula teria recebido um total de pouco mais
de R$ 3,7 milhões, somando o valor do apartamento e do contrato entre a OAS e a
Granero. Apesar disso, os procuradores pediram que o ex-presidente seja
condenado a pagar outros R$ 87 milhões em multas.
Os procuradores pedem, ainda, a interdição do exercício de
cargo ou função público pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade,
para os acusados que forem condenados pelo crime de lavagem de dinheiro.
As defesas têm até 20 de junho para contestar os argumentos
do MPF, dentro do processo. Esta é a última fase da ação penal. Após todas as
partes apresentarem as alegações finais, o processo volta ao juiz Sérgio Moro,
que vai definir se condena ou absolve os réus.
Veja a lista completa dos réus e dos crimes:
Luiz Inácio Lula da Silva – corrupção passiva e lavagem de
dinheiro
José Adelmário Pinheiro – corrupção ativa e lavagem de dinheiro
Agenor Franklin Magalhães Medeiros – corrupção ativa
Paulo Gordilho – lavagem de dinheiro
Fábio Yonamine – lavagem de dinheiro
Roberto Moreira Ferreira – lavagem de dinheiro
Paulo Okamotto – lavagem de dinheiro
O outro lado
Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins divulgaram nota, neste
sábado (3), afirmando que o MPF insiste em teses inconstitucionais e ilegais.
De acordo com a defesa, as 73 testemunhas ouvidas e documentos juntados ao
processo provam a inocência de Lula. Veja a nota completa abaixo.
A defesa do Léo Pinheiro, a empresa OAS e os advogados de
Agenor Franklin Medeiros informaram que não vão se manifestar.
O advogado de Paulo Okamotto, Fernando Augusto Fernandes,
disse que o processo demonstrou não existir qualquer ilegalidade em relação ao
armazenamento do acervo do ex-presidente Lula, e que acredita na absolvição do
cliente dele.
O G1 tenta contato com as defesas dos outros réus.
Veja a íntegra da nota da defesa de Lula:
As alegações finais do MPF mostram que os procuradores
insistem em teses inconstitucionais e ilegais e incompatíveis com a realidade
para levar adiante o conteúdo do PowerPoint e a obsessão de perseguir Lula e
prejudicar sua história e sua atuação política.
As 73 testemunhas ouvidas e os documentos juntados ao
processo - notadamente os ofícios das empresas de auditoria internacional Price
e KPMG - provaram, sem qualquer dúvida, a inocência de Lula. O ex-Presidente não
é e jamais foi proprietário do triplex, que pertence a OAS e foi por ela usado
para garantir diversas operações financeiras.
Nos próximos dias demonstremos ainda que o MPF e seus
delatores informais ocultaram fatos relevantes em relação ao triplex que confirmam
a inocência de Lula - atuando de forma desleal e incompatível com o Estado de
Direito e com as regras internacionais que orientam a atuação de promotores em
ações penais.
Outros processos em Curitiba
Esse processo do triplex foi o primeiro apresentado pela
força-tarefa do MPF responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba. Além dessa
ação penal, os procuradores apresentaram outras duas denúncias à Justiça.
Lula foi denunciado pelo MPF por ter recebido propina também
da Odebrecht, referente a contratos da empreiteira com a Petrobras. Nesse
processo, em que testemunhas já estão sendo ouvidas, o ex-presidente é acusado
de ter recebido um terreno em São Paulo, que seria usado para construir uma
nova sede para o instituto social que leva o nome do político e também o
apartamento vizinho ao que ele mora, em São Bernardo do Campo.
A defesa tem negado irregularidades nos dois casos, pois o
Instituto Lula jamais transferiu a sede para o terreno apontado pelo MPF no
processo. Em relação ao apartamento, o imóvel é usado pelos seguranças de Lula,
mas o ex-presidente diz que pagou aluguel durante todo o tempo que ocupou o
local.
Na terceira denúncia, que ainda não foi aceita pelo juiz
Sérgio Moro, o MPF volta a acusar Lula de receber propina das construtoras OAS e
Odebrecht. Segundo a denúncia, a primeira empreiteira pagou a instalação de uma
cozinha em sítio, em Atibaia, no interior de São Paulo. Já a Odebrecht teria
realizado reformas no imóvel, a pedido de Lula.
O sítio pertence, no cartório, aos empresários Fernando
Bittar e Jonas Suassuna. No entanto, durante a deflagração da 24ª fase da
Operação Lava Jato, em que Lula foi um dos alvos, os investigadores encontraram
diversos bens pessoais do ex-presidente no local. O MPF acredita que ele era o
dono real do imóvel, o que a defesa também nega.
'Fim da palhaçada'
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta
quinta-feira (1º), ao discursar na abertura do 6º Congresso Nacional do PT, em
Brasília, que já provou a inocência e pediu o fim da "palhaçada" das acusações
contra ele.
"Eu não quero que vocês se preocupem com meu problema
pessoal. Esse, eu quero decidir com o representante do Ministério Público, da
Lava Jato. Quero decidir com eles. Eu já provei minha inocência. Agora vou
exigir que eles provem minha culpa, porque cada mentira contada será
desmontada", disse o ex-presidente.
"Eu e Dilma temos até conta no exterior. Eu nem sabia
que ela tinha e ela não sabe que eu tenho. Um canalha diz que fez uma conta
para mim e uma para a Dilma, mas que está no nome dele. E ele mexe com a grana.
Então, é o seguinte: chegou o momento de parar com a palhaçada neste país. Este
país não comporta mais viver nessa situação de achincalhamento, e o Partido dos
Trabalhadores tem de dar uma resposta clara para a sociedade", acrescentou
Lula.
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