Da ISTOÉ
A desfaçatez petista parece não ter limites. Chega a ser
risível. Mesmo soterrado numa avalanche de denúncias de corrupção, o PT tenta
emergir do lamaçal em que está mergulhado desfraldando a bandeira das “diretas
já”, o que afronta a Constituição.
A Carta Magna prevê a realização de eleições indiretas, via
Congresso, caso o presidente Michel Temer deixe o governo, mas os petistas,
sabe-se, não se importam muito com o que versam as leis. A não ser as que os
beneficiam. Quando isso não acontece, não têm pudores em atropelá-las, em
investidas típicas de regimes totalitários.
O motivo catalisador de mais uma cartada oportunista do PT é
a crise instalada no Palácio do Planalto. Com a eventual saída de Temer, os
petistas esperam poder voltar a dar as cartas no País. O candidato do partido
em caso de eleição direta, esse novo delírio fomentado pelo PT e articulado às
sombras por José Dirceu, evidentemente que seria Lula – prestes a ser condenado
em primeira instância.
Ocorre que, segundo o artigo 81 da Constituição Federal, se
Temer deixar o poder agora, quem assume interinamente é o presidente da Câmara
dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A ele cabe convocar eleições indiretas no
prazo de 30 dias. É a única alternativa constitucional possível.
Mesmo assim, Lula segue em campanha. Age como alguém que
quer passar uma borracha em sua vida pregressa sem antes prestar contas à
Justiça.
Como se estivesse no palanque, em evento de posse dos novos
integrantes do Diretório Municipal do PT, em São Bernardo do Campo, no sábado
20, Lula bateu picos de sandice ao apregoar que nenhum governo combateu tanto a
corrupção como o seu.
Não parou por aí. O pentarréu teve o desplante de fazer
outra afirmação fantasiosa, digna de matérias do sensacionalista: de que o PT
pode ensinar a combater a corrupção. “Ninguém na história deste País criou mais
mecanismos para combater a corrupção do que nos 12 anos de PT no governo. A
Polícia Federal é o que é por causa do PT.
O Ministério Público é o que é hoje porque, na Constituinte
de 1988, companheiros como o (José) Genoíno brigaram pela autonomia do Ministério
Público, que antes era um apêndice do Ministério da Justiça”, disse Lula, com o
rosto besuntado em óleo de peroba.
Perto de se tornar réu pela sexta vez, o ex-presidente
também é citado na delação de Joesley Batista. O empresário contou que deu a
Lula e a Dilma um total de US$ 150 milhões (ou R$ 480 milhões), depositados em
contas no exterior. O dinheiro seria desviado do BNDES e de um esquema que
funcionava na Petros e no Funcef, os fundos de pensão da Petrobrás e da Caixa
Econômica Federal.
O réu quer voltar
Como se não tivesse nada a ver com os novos escândalos, Lula
e a caravana petista têm percorrido o País propagando o direito de o
ex-presidente concorrer à Presidência da República já. Mas a cantilena dita
sobre caminhões de som não é entoada com a mesma força nos bastidores do
partido. Para o público interno, Lula e a cúpula do PT admitem que é quase
impossível a realização de eleições diretas na atual circunstância.
A saída encontrada para a salvação da lavoura petista é se
aproximar de um nome escolhido pela Câmara que venha a contemplar os quadros do
PT.
Para salvar a própria pele, é imperativo ao partido, e a
Lula, não ficar de fora da escolha de um possível sucessor de Temer.
Trata-se de uma aberração política que só acontece mesmo no
Brasil: como um político prestes a ser condenado pela Justiça pode ter
condições de sentar-se a mesa com quem quer que seja para discutir o futuro do
País?
Mas há quem defenda a participação do petista num processo
de transição. Em reunião de senadores, coordenada por Kátia Abreu (PMDB-TO), a
hipótese de convocar Lula para as costuras de uma nova concertação política foi
aventada. O petista conta com o apoio do senador Renan Calheiros (PMDB-AL),
também atolado em denúncias. As reuniões, em geral, ocorrem de madrugada na
casa de Kátia, longe do radar de jornalistas.
Obstruir reformas
O discurso que Lula dirige à militância e o lapso de memória
que o acometeu nos últimos dias também contagiaram sua fiel criação.
Esquecendo-se de que foi seu desgoverno que lançou o País à crise, Dilma
Rousseff fez uma declaração estapafúrdia ao falar sobre a gestão Temer: “Olha o
que eles fizeram com o Brasil”. Como se não bastasse, na semana passada, Dilma
ainda entrou com uma ação para, pasme, anular o impeachment. Pura firula. Não
dará em nada.
Dilma e Lula são expoentes de um PT que se regozija da
situação de instabilidade política que vive o País, como reflexo das denúncias
formuladas pelos donos da JBS. O clima do “quanto pior, melhor”, imposto pela
cúpula, é levado à risca pela bancada do partido na Câmara e no Senado. Até
segunda ordem, a determinação é obstruir a pauta das reformas nas duas Casas.
Mesmo que isso signifique um atraso para o País.
O papelão de Lindbergh
A sessão de terça-feira 23 da Comissão de Assuntos Econômicos
(CAE), que analisava a reforma trabalhista, quase se transformou num ringue.
Depois de transcorrer calmamente durante boa parte da manhã, quando o pelotão
de choque do PT, capitaneado pelos senadores Lindbergh Faria (RJ) e Gleisi
Hoffmann (PR), estava ausente, o clima virou com a chegada dos petistas à sala
e por pouco a reunião que apreciaria o relatório do senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES) não se transformou em pancadaria.
Aos gritos e mostrando total falta de controle emocional, o
senador Lindbergh Faria (PT-RJ) tentou impedir que o presidente da CAE, Tasso
Jereissati (PSDB-CE), desse continuidade à sessão. O ápice do papelão do
petista ocorreu quando Ferraço se preparava para a leitura do relatório.
Lindberg chegou a ir para cima dele, como se fosse lhe tomar o calhamaço de
folhas na marra. O senador Fernando Bezerra (PSB-PE) teve de segurar Lindbergh.
“Não vai ler, não vai ler”, berrava o petista em direção ao relator. Os faniquitos
do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também contribuíram para conturbar o
ambiente.
Insuflados pela conduta dos senadores da oposição,
manifestantes que acompanhavam a sessão começaram a gritar palavras de ordem e
a pedir a renúncia do presidente Temer.
Foi preciso a intervenção da Polícia do Senado para
controlar a situação. A sessão teve de ser transferida para o plenário. O
próximo round está marcado para a semana que vem, quando os senadores voltam a
se reunir. No horizonte, novas cenas lamentáveis.
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