As suspeitas de que o governador Pedro Taques (PSDB) tenha
se beneficiado de caixa dois na eleição de 2014 e de supostas interceptações
telefônicas clandestinas para monitorar rivais colocam mais uma vez um ocupante
do Palácio Paiaguás, sede do governo de Mato Grosso, nos holofotes de
investigações.
Os últimos três governadores do Estado tiveram as gestões
marcadas por acusações. O penúltimo, Silval Barbosa (2010-2014), do PMDB, ficou
detido por um ano e oito meses pela Operação Sodoma e, desde a última terça
(13), cumpre prisão domiciliar.
Taques foi eleito ainda no primeiro turno, ancorado na
carreira de procurador da República. Em maio de 2016, viu o Gaeco (Grupo de
Atuação e Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público de Mato Grosso,
deflagrar a Operação Rêmora, contra fraudes em processos licitatórios na
Secretaria da Educação.
As investigações apontaram que o suposto esquema começou em
2015 e envolvia ao menos 23 obras em escolas, com valores totais que
ultrapassam R$ 56 milhões.
Segundo depoimento do empresário Alan Malouf, preso em
dezembro, o objetivo era quitar dívidas não declaradas da campanha de 2014.
Malouf tenta firmar acordo de delação premiada, mas tem encontrado resistência.
No mês passado, Taques foi atingido pela revelação da
existência de uma central clandestina de interceptações telefônicas dentro do
comando da Polícia Militar.
Telefones de uma deputada da oposição –Janaina Riva (PMDB)–
e de ex-vereador, desembargador aposentado, assessor de desembargador, assessor
da vice-governadoria, advogados, jornalistas e servidores foram inseridos
ilegalmente num pedido de quebra de sigilo para investigar traficantes no
Estado.
O sistema teria operado entre 2014 e 2015. O promotor Mauro
Zaque, que era secretário da Segurança Pública, descobriu o esquema e levou o
caso ao governador, exigindo a demissão dos envolvidos.
Mas, de acordo com ele, Taques não os demitiu e, por isso,
Zaque deixou o cargo. O caso é apurado pela PGR (Procuradoria-Geral da
República).
OUTROS CASOS
Antes de Taques, outros dois ex-governadores se viram em
meio a denúncias. Silval Barbosa (PMDB) foi preso em setembro de 2015 na
Operação Sodoma, que investiga esquema de cobrança de propina para beneficiar
empresas no programa de incentivos fiscais do Estado, com o objetivo de
financiar e pagar dívidas de campanha.
Seu antecessor, Blairo Maggi (PP), atual ministro da
Agricultura, é acusado de ter participado de esquema de compra de vagas no
Tribunal de Contas, em 2008.
Recentemente, Maggi viu seu nome ser envolvido na Lava Jato.
Depoimentos de dois ex-executivos da Odebrecht resultaram na abertura de
inquérito para apurar possível cobrança de propina para a sua candidatura ao
governo de Mato Grosso em 2006.
Taques e Maggi negam envolvimento com as supostas
irregularidades, enquanto Silval, segundo sua defesa, optou por fazer
confissões pontuais –que levaram à sua libertação e à fixação de multa de R$
46,6 milhões aos cofres públicos.
OUTRO LADO
Por meio de sua assessoria, o governador Pedro Taques (PSDB)
classifica os grampos dentro do comando da PM como graves e diz que solicitou
apuração por meio da Secretaria da Segurança Pública.
Ele também afirma que as acusações do empresário Alan Malouf
são "absurdas e levianas" e que suas contas referentes à campanha
eleitoral de 2014 foram aprovadas.
O advogado de Silval Barbosa, Délio Lins e Silva Junior, diz
que seu cliente "assumiu uma nova postura defensiva e optou apenas por
fazer confissões pontuais acerca de determinados temas".
Silval admitiu à Justiça o recebimento de propinas por
secretários pela manutenção de contratos e por desapropriações de terrenos,
além de doações ilegais para campanhas eleitorais de seus aliados. Ele prestará
depoimentos a partir de 5 de julho.
Também por meio de nota, Blairo Maggi disse que o processo
contra ele foi arquivado em maio do ano passado pelo STF. Porém, novas denúncias
foram apresentadas à PGR e estão sob sigilo.
Já sobre a suposta compra de vagas no TCE, Maggi nega
participação.
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