Nelson Motta, O Globo
Depois de ser absolvido pelo TSE por excesso de provas,
Temer conseguiu escapar da investigação da PGR pelo excesso de emendas
parlamentares e cargos usados para convencer deputados a votar “pelo Brasil e
pela governabilidade”.
Uma farsa vergonhosa com cartas marcadas que, por seu
cinismo e previsibilidade, não mereceria uma cobertura de televisão ao vivo.
Até o “Jornal Nacional” e a novela “A força do querer” (que
não é sobre Temer) não foram exibidos para que víssemos um espetáculo
constrangedor, em que a oposição desempenhou o papel de legitimar a “vitória”
governista dando quorum e votando “contra” para aparecer, para esbravejar em
rede nacional, fingir que quer mesmo derrubar Temer, quando o quer fraco e
sangrando até 2018.
O desinteresse e o desprezo da população pela “votação
histórica” são mais que isto, são desesperança.
Com seu look antiquado de galã dos anos 50, Temer representa
o arquétipo da velha política, uma raposa esperta que conseguiu ser presidente
da Câmara três vezes e escolhido por Lula para ser vice de Dilma, para depois
derrubá-la com a ajuda de uma maioria parlamentar.
É um exemplo de político brasileiro, um péssimo exemplo.
Um espécime em extinção que sintetiza as práticas que vêm
deteriorando a política brasileira e revelando que todos os partidos, ou quase,
desenvolveram um espírito de organização criminosa, para manter o poder e
institucionalizar a corrupção, usando de todos os meios para inviabilizar as
investigações e salvar a pele de um terço do Congresso.
OK, “Fora Temer” é uma unanimidade, mas e o pós-Temer?
Tirando os lulistas patológicos, e os fanáticos
bolsonaristas, quem se anima para eleições diretas?
Diz a lenda que a História não anda para trás, mas não custa
lembrar que Getulio Vargas, depois de ter sido por oito anos um ditador odiado,
que censurou, prendeu e matou muita gente, cinco anos depois de deposto voltou
nos braços do povo em eleições democráticas, saindo do lixo e entrando para a
História.
O povo brasileiro é capaz de tudo. Até mesmo de esquecer as
propinas e falcatruas de Lula e transformá-lo em um Getulio 2.0?
Nelson Motta é jornalista
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