Da ISTOÉ
Arrivistas acostumados ao bem-bom gritam contra a nova safra
de privatizações que coloca dinheiro no Tesouro ao mesmo tempo em que entrega
eficiência a quaisquer das empresas colocadas à venda. Que desde logo fique
claro: repassar estatais à iniciativa privada não é – como alguns tentam fazer
crer – entregar bens públicos que farão falta ao Estado. É, antes de tudo, se
desfazer de bens dos políticos, deixando órfãos apenas aqueles velhos
conhecidos dependentes de mamatas.
A cambada de fisiologistas, seus apaniguados, detentores da
máquina para usufruto próprio, funcionários públicos ineficientes que mostram
horror a cobranças e gangues partidárias que adoram aparelhar o sistema com
sindicalistas que lhe prestam vassalagem e enchem suas burras de dinheiro com o
desvio inescrupuloso de recursos estão na linha de frente da chiadeira. Não
querem de maneira nenhuma perder o privilégio que viceja no ambiente estatal.
Temem o princípio da meritocracia. Assustam-se com o desemprego dos ocupantes
de cargos-fantasmas.
Há de se convir que, faz muito tempo, várias estatais se
transformaram em verdadeiros cabides de funcionários custosos, pouco preparados
e improdutivos. Boa parte deles ali alocados por indicação de padrinhos
partidários – esses sim os autênticos CEOs das companhias. Vamos ser realistas:
são majoritariamente os políticos que não gostam de privatizações.
E a razão é simples: por que afinal eles irão brigar lá na
frente quando não mais existir esses sugadores de verbas para seus esquemas? A
Eletrobrás será vendida pouco depois de quase ser destruída pela desastrosa
administração da ex-presidente Dilma que, em um rompante de devaneio, decidiu
baixar na marra as tarifas de energia como medida populista para ganhar as
eleições. Irresponsável ao extremo, ela foi depois destituída do cargo antes
mesmo de dar fim a essa joia da coroa. Desde épocas imemoriáveis siglas de
aluguel e ONGs que atuam movidas por intento corporativista levantam
resistência à desestatização.
Ocorreu assim também, por exemplo, quando a telefonia foi
privatizada. A mesma ladainha de grupelhos alertando para “o perigo de se
perder o controle sobre uma área estratégica” entrou em voga. Vale lembrar: na
ocasião telefone era coisa de rico. Quase ninguém possuía. Pagava-se linha em
dólar. O “bem” era declarado no Imposto de Renda. Menos de 20 milhões de
brasileiros detinham a prerrogativa de possuir um aparelho em casa. A maioria
dependia de “orelhões” – para quem não está familiarizado com a expressão,
tratava-se dos telefones públicos instalados nas ruas, funcionando à base de
ficha. De lá para cá, cada brasileiro passou a ter ao menos um celular.
São mais de 300 milhões de linhas disponíveis atualmente. O
case de sucesso deveria inspirar os demais setores. Não importa apenas o total
do valor pago por uma estatal posta à venda. O benefício disseminado é o que
conta. Logo a seguir ao anúncio da privatização a Eletrobrás experimentou uma
valorização de seus ativos da ordem de R$ 10 bilhões, ou cerca de um terço a
mais de sua cotação anterior. Para o mercado, privatização é palavra que soa
muito bem. Pitoresco foi ter de assistir Dilma Rousseff pontificando nas redes
sociais sobre o risco de “se abrir mão da segurança energética”. Logo ela, que
fez o diabo na área e deixou por um fio a sobrevivência da atividade, quase
rompendo com a tal “segurança energética”.
Dilma hoje pode ser
encarada como uma espécie de garota-propaganda às avessas. Deve-se fazer o
contrário do que a mandatária deposta aconselha. Se ela considera condenável o
programa de concessão de ativos da União é porque a saída está correta. Nesse
caminho, o Governo Temer decidiu ampliar o projeto para além da Eletrobrás.
Entraram na lista aeroportos, portos e até a Casa da Moeda. Quem sabe, ao fim e
ao cabo, a era das mamatas estatais ficará para trás, esquecida como um
pesadelo que passou.
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