Da ISTOÉ
O “galeguinho dos olhos azuis”, apelido do presidente
nacional do PSDB e senador Tasso Jereissati (CE), sacudiu seu partido. Colocou
no ar uma inserção de 30 segundos, onde pela primeira vez em sua história, os
tucanos admitiram que cometeram erros. O partido vive, desde então, um vendaval
interno. No início da semana, os aecistas estavam enfurecidos. Para eles, o
programa tinha sido uma estocada desnecessária no senador Aécio Neves (MG), que
foi afastado da presidência do partido, desde que mergulhou na Lava Jato. “O
PSDB acertou quando criou o plano Real, mas agora errou”, diz o partido na
abertura da inserção.”O PSDB errou e tem que fazer uma autocrítica”, explicou a
locutora. Os governistas da legenda também envergaram a pluma. Não à toa. Um
dos trechos do programa dizia que o governo Temer adotava um sistema
“presidencialista de cooptação”. Ou seja, dando a entender que os tucanos que
apóiam o governo o fazem por interesses não republicanos. Foi o estopim para a
crise.
A ala dos insatisfeitos elevou o tom e pediu a saída
imediata de Tasso da presidência do PSDB. Fiel a Aécio Neves, o deputado Marcus
Pestana (MG) foi o primeiro a disparar contra o senador cearense. “Nós fizemos
uma auto flagelação em 30 segundos na TV. Há entre nós os que avaliam que tudo
faliu. Estão convencidos que o PSDB acabou”. O ministro das Relações
Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (SP), chegou a dizer que Lula e o PT deviam
estar “soltando gargalhadas”. O publicitário Einhart Jácome da Paz, que
produziu o conteúdo do programa tendo como base pesquisas de opinião, preferiu
refugiar-se no silêncio. Pediu à sua equipe para fazer o mesmo, apesar do resultado
altamente positivo verificado nas pesquisas qualitativas. Nelas, pequenos
grupos, reagem na hora exata da exibição do programa. Um deles, lacônico,
apenas comentou: “É muito difícil que as pessoas não concordem quando um
partido diz que errou”. Na queda-de-braço, ao fim e ao cabo, prevaleceu a força
dos tucanos de São Paulo, governador Geraldo Alckmin à frente, interessados na
permanência do senador cearense no comando da legenda.
Na quinta-feira 24, após reunião com o próprio Tasso, Aécio
abaixou as armas. “As divergências foram superadas e nós continuaremos na nossa
trilha de construir um projeto para o País, e isso pressupõe um PSDB unido. E a
unidade se dará em torno da interinidade do senador Tasso até o mês de
dezembro, onde, aí sim, o PSDB elegerá uma nova direção representando todos os
segmentos do partido”, afirmou.
Entre mortos e feridos, nem todos se salvaram. Os próprios
paulistas que defenderam a manutenção de Tasso na presidência não gostaram da
reação de alguns, como o senador Ricardo Ferraço, que chamou os tucanos de
linha auxiliar do governo Temer. “Ele acaba de entrar no partido. Era do PMDB.
É um desrespeito”, teria dito o ex-senador José Aníbal numa roda de
parlamentares.
Presidencialismo de cooptação
Tasso quer tirar o pó das roupas do PSDB antes de enfrentar
as eleições presidenciais do ano que vem. Como resume um senador tucano: “Todos
achamos que é preciso descolar o partido de práticas combatidas pela sociedade,
como a corrupção”. Os tucanos pretendem conquistar parcela dos movimentos que
apostam na antipolítica. A ideia é alinhar ao seu candidato ao Palácio do
Planalto organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua, que
lideraram a luta pelo impeachment, tomando a Avenida Paulista com mais de um
milhão de pessoas. Um serrista chegou a dizer: “Quando o presente é
inconciliável, temos que fugir para o futuro”.
Mas nem tudo são flores. Fazer autocrítica não resolve a
crise política enfrentada pelo País. Nem defender o parlamentarismo, como o
programa liderado por Tasso fez, com a supervisão de caciques partidários, como
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que deu sustentação ideológica para
a elaboração do programa. Os críticos de Tasso dizem que o partido não falou
como irá enfrentar o drama dos 14 milhões de desempregados, entre outras
coisas. Acham que o programa deveria ter dito que a crise do desemprego foi
fomentada pelos governos petistas. Para os tucanos de mais peso hoje, o grande
desafio é escolher um candidato a presidente da República, com reais
perspectivas de vitória. E esse anúncio pode sair em dezembro, quando o PSDB
faz sua convenção nacional. Até lá, deve permanecer o cabo de guerra entre os
dois lados, com Tasso Jereissati na corda bamba.
“Não existem donos de partido”
O senhor esperava tanta repercussão quando criticou o
“presidencialismo de cooptação”?
Esperava porque eu sabia que as pessoas iriam se surpreender
com o programa em que o partido reconhece erros e procura fazer uma
autocrítica. As pessoas não estão acostumadas com isso e, evidentemente, iriam
se chocar.
O PSDB está dividido?
O PSDB não está dividido. Questões de divergências pontuais
acontecem em todos os partidos, principalmente num partido como o nosso, que
sempre foi democrático. Não existem donos de partido ou donos da verdade.
O senhor cogita sair da presidência?
Não existe essa cogitação. Nós vamos cumprir todo o programa
que nos dispusemos a montar. Um deles é o cronograma de renovação das
executivas estaduais, regionais e nacional até dezembro.
Como o senhor tem recebido as críticas à sua gestão?
Faz parte do jogo democrático da política
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