Da ISTOÉ
O efeito generalizado da Lava Jato, em que os políticos
passaram por intenso descrédito, está provocando um salve-se quem puder nos
partidos. A maioria pretende se apresentar com ares de renovação para a opinião
pública. Mudam de nome. Mudam de sigla. Lançam nomes novos para substituir
velhos caudilhos. Prometem modernizar e reciclar suas propostas. Outros, como o
PT, em que os dirigentes foram abatidos por graves denúncias de corrupção,
ameaçam voltar ao passado e adotar discursos radicais que os tornaram
palatáveis aos descamisados há 30 anos. A maquiagem varia de sigla para sigla,
mas só será possível avaliar quais terão sucesso nessa estratégia após a
abertura das urnas em 2018. Agremiações tradicionais cogitam sucumbir a uma
tendência à moda dos anos 60 de abolir a palavra “Partido”. O nome virou
palavrão no Brasil e está associado a atos ilegais e à prática de corrupção. O
PMDB quer voltar a ser MDB. Embora isso não tenha resolvido no caso do PFL, que
virou DEM, e de militantes do PV que se abraçaram a Marina Silva e teceram a
Rede.
O PT está de volta ao passado, ressuscitando o radicalismo
de seu líder Lula. Importantes lideranças do partido, como o ex-ministro Tarso
Genro, falam em “refundar” a legenda, reconhecer os erros e pedir desculpas à
sociedade, mas Lula impede qualquer processo de depuração. Além de não admitir
erros, o ex-presidente promete radicalizar ainda mais o discurso caso volte a
assumir a presidência, controlando os veículos de comunicação e mandando
“prender” juízes e procuradores que o processaram por corrupção. Uma volta ao
passado do PT sindicalista, que desejava incendiar fábricas, como se isso
melhorasse a vida dos metalúrgicos. Há muito tempo ele abandonou o “Lula paz e
amor” que o elegeu presidente por dois mandatos.
Roupa nova
A troca de camisas promete ser uma rotina. O senador Álvaro
Dias que já tinha saído do PSDB, agora abandonou o PV. Mudou-se para o Podemos,
que até recentemente se chamava Partido Trabalhista Nacional (PTN), e quer
concorrer à Presidência da República em 2018 por essa nova agremiação.
De olho na janela aberta pela insatisfação, o DEM, partido
do presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ), está com projeto de cooptar
deputados que são apresentados como de esquerda, para dar um novo ar a um
partido que já foi considerado mais à direita. Seus quadros estão de olho em
políticos do PSB que preparam a debandada geral. O PFL, que era comandado pelo
senador Antonio Carlos Magalhães (ACM), já falecido, foi a primeira legenda a
retirar a palavra “partido” de sua sigla, mas isso não resolveu. Sua bancada na
Câmara caiu de 105 em 1998 para 65 em 2006. Para evitar o pior, em 2007 virou
DEM, mas continua ladeira abaixo. Elegeu 43 em 2010 e 21 em 2014. Nem sempre
colocar uma roupa nova significa renovar o partido.
Tudo se copia
A corrida ao cartório eleitoral para a mudança de nome é
incorporada por outras siglas. Um dos partidos mais atingidos na Lava Jato, o
PP, deve se dirigir à Justiça Eleitoral para alterar sua nomenclatura. Herdeiro
da Arena, que sustentou a ditadura militar, está cogitando passar a se chamar
Progressistas. O nanico PEN, do qual poucos ouviram falar, vai alterar seu nome
para Patriotas. E, depois, vai entrar no mercado político para oferecer a
legenda para o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSC).
O lendário apresentador Chacrinha dizia na TV que no Brasil
nada se cria, tudo se copia. Pode ser exagero, mas há partidos que buscaram
inspiração lá fora. É o caso do PTN, que hoje é o Podemos. O nome foi clonado
do homônimo partido da Espanha. Alguns anos antes do Podemos, o sindicalista
Paulo Pereira da Silva (Paulinho) foi buscar inspiração lá fora para criar o
seu Solidariedade. Quem não lembra do movimento “Solidarnos”, fundado pelo
futuro presidente da Polônia, Lech Valessa, para contestar o governo do Partido
Comunista na década de 80? Algumas mudanças já correm o risco de naufragar,
antes mesmo de serem testadas nas urnas. É o caso do Avante, nome adotado pelo
PTdoB. Com a prisão do ex-petista Cândido Vaccarezza, o partido caiu na vala
comum soterrado pela Lava Jato.
Para o doutor em ciência política da Universidade de
Brasília Leonardo Barreto “estão tentando só escapar do peso que a Lava-Jato
impôs sobre eles. E mudam onde é mais fácil, já que mudar de hábitos é mais
difícil”.
O professor da Universidade de Salamanca (Espanha), Carlos
Manhanelli, é ainda mais eloquente ao desmistificar a mudança, que ele chama de
perfumaria: “É uma questão mais de propaganda que de ideologia política. O
grande problema no Brasil é esse: nenhum partido segue qualquer ideologia. São
nomes puramente mercadológicos”. Pelo jeito, irá prevalecer a máxima de
Lampedusa: algo deve mudar para tudo permanecer como está.
Metamorfose ambulante
> O PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
quer voltar a ser MDB (Movimento Democrático Brasileiro)
> O Democratas era PFL (Partido da Frente Liberal)
> O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) nasceu
de um racha no PMDB
> O Podemos já foi PTN (Partido Trabalhista Nacional)
> O PP (Partido Progressista) quer se chamar apenas
Progressistas
> O PEN (Partido Ecológico Nacional) pretende se chamar
Patriotas
> O Solidariedade nasceu de um racha no PDT (Partido
Democrático Trabalhista)
> O Avante chamava-se PTdoB (Partido Trabalhista do
Brasil)
> O Partido Novo nasceu para pregar o rompimento com a
política tradicional, inclusive renegando o fundo partidário
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