Um delator ligado a desvios de verba pública no Paraná
afirma que negociou com o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), a compra de
um cargo no governo do Estado pelo valor de R$ 15 mil mensais.
Os pagamentos foram feitos, segundo ele, ao cunhado de Barros,
Juliano Borguetti, irmão de Cida Borghetti (PP), mulher do ministro e
vice-governadora da gestão de Beto Richa (PSDB).
O delator é Eduardo Lopes de Souza, dono da construtora
Valor, apontada como responsável por desvios de cerca de R$ 20 milhões da Secretaria
da Educação do Paraná. Ele foi um dos alvos da operação Quadro Negro, que
investiga o esquema.
A Folha teve acesso aos anexos do acordo assinado há mais de
um mês com a Procuradoria-Geral da República e que aguarda homologação do
ministro Luiz Fux no Supremo Tribunal Federal.
A reunião com Barros, segundo o delator, ocorreu "bem
no começo do ano de 2015", quando o ministro era deputado federal.
Souza relata que o combinado foi nomear Marilane Aparecida
Fermino para um cargo de assistente na vice-governadoria. Ela atuava ajudando a
construtora Valor na Secretaria de Educação.
"Nessa reunião, Ricardo Barros disse que concordaria
com a proposta, mas era para pagar R$ 15 mil mensais ao Juliano Borguetti (eu
tinha oferecido R$ 10 mil)", diz trecho da delação de Souza.
O empresário afirmou que a ideia era que Marilane fosse
realocada, posteriormente, para a Sema (Secretaria do Meio Ambiente), que é da
"cota da família Barros", segundo ele.
"Ele [Barros] disse que colocaria Mari na Sema e que,
em relação aos contratos que eu ganhasse lá, a gente acertava na época da
campanha. Ele disse que não gostava de receber valores ao longo da execução das
obras", afirmou o delator.
No "Diário Oficial" de 21 de janeiro de 2015 foi
publicada a nomeação de Marilane como assessora da vice-governadoria do Estado.
O salário base do cargo que a servidora ocupou era R$ 9.000.
Souza relata que pagou três parcelas de R$ 15 mil por três
meses, totalizando o desembolso de R$ 45 mil. "Ele [Juliano Borghetti,
cunhado de Barros] ia buscar o dinheiro comigo lá na Valor".
Em dezembro de 2015, Borghetti, que é ex-vereador de
Curitiba, chegou a ficar preso por três dias em uma das fases da Quadro Negro,
que prendeu também o delator.
Investigadores relataram à reportagem que Borghetti foi
detido porque recebeu três cheques da construtora Valor de R$ 15 mil cada um.
Essa não foi a primeira vez que o ex-vereador foi preso. Em
2013, ele se envolveu em briga entre os torcedores do Atlético-PR e do Vasco em
uma rodada do Campeonato Brasileiro na Arena Joinville (SC) e acabou sendo
detido.
Segundo Souza, o desgaste da imagem de Borghetti no episódio
o impossibilitava de assumir cargos no governo. No entanto, "foi lhe dado
o direito à nomeação de um cargo na vice-governadoria", disse Souza. A
nomeação teria sido acertada na reunião entre Barros, seu cunhado e o
empreiteiro.
O delator afirmou que Marilane chegou a ser apresentada por
Barros ao secretário do Meio Ambiente, mas que o combinado de deslocá-la para a
pasta não aconteceu. Disse ainda que depois ela perdeu o posto na vice, já que
"o governador Beto Richa retirou alguns cargos da lá".
O empreiteiro diz que combinou com Borghethi suspender os
pagamentos até que a situação da servidora se resolvesse. Logo depois, vieram a
público os desvios envolvendo a Secretaria da Educação e a construtora Valor e
os pagamentos não foram retomados.
Hoje, Marilane trabalha na Secretaria de Administração e
Previdência do Paraná.
OUTRO LADO
O ministro Ricardo Barros (Saúde) e o cunhado dele, o
ex-vereador Juliano Borghetti, negaram que os pagamentos feitos por Eduardo
Souza, dono da construtora Valor e hoje delator, tenham ligação com a compra de
um cargo da vice-governadoria.
Ambos afirmam que Borghetti recebeu da Valor porque
trabalhou por cerca de três meses na construtora como período de experiência.
"O trabalho na empresa foi posterior aos supostos
desvios por ela praticados, conforme comprovado no processo que tramita em
Curitiba", disse Claudio Dalledone, advogado do ex-vereador. Ele afirmou
ainda que seu cliente nega as acusações relacionadas "à pretensa troca de
cargos".
O ministro Ricardo Barros disse, por meio de sua assessoria
de imprensa, que a operação Quadro Negro virou inquérito e ação na Justiça há
mais de um ano e que não houve citação ao seu nome.
Relata também que "nenhuma das testemunhas do processo
o implicou nos fatos investigados".
Também disse que não procede a informação de que acertou
nomear a servidora Marilane Fermino para a vice-governadoria do Estado.
A nota afirma que Marilane é funcionária de carreira do
Estado, que ocupou um cargo na secretaria de Educação, foi nomeada na
vice-governadoria, mas trabalhou efetivamente na Casa Civil. "Em abril,
ela foi para a secretaria de Administração, em março de 2017 alocada na de
Desenvolvimento Urbano, e em julho de 2017 voltou para a Administração".
Barros reiterou que está à disposição para esclarecimentos
quando tiver acesso ao teor da suposta delação.
A defesa da servidora Marilane Fermino disse que não se
manifestará porque não recebeu posicionamento formal em relação à delação.
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