O dono da Construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, disse
em acordo de delação premiada com o Procuradoria-Geral da República que pagou
R$ 12 milhões de propina a um intermediário do governador do Paraná, Beto Richa
(PSDB).
Parte dos recursos foi entregue, segundo o delator, em um
banheiro de uma secretaria e também camuflado em caixas de garrafas de vinho.
Nesse montante está incluída uma mesada de R$ 100 mil paga
em 2015, segundo Souza, que abasteceria as campanhas de Beto, de seu irmão e de
seu filho em 2018. O governador nega as acusações.
O intermediário do governador apontado pelo empreiteiro é
Maurício Fanini, amigo de Richa que foi nomeado por ele diretor da Sude
(Superintendência de Desenvolvimento Educacional), braço da Secretaria Estadual
de Educação. Fanini é ligado a desvios de cerca de R$ 20 milhões da construção
de escolas públicas, segundo dados da Operação Quadro Negro.
A reportagem teve acesso à delação. Outra reportagem
publicada pela Folha nesta sexta (1º) mostra que o mesmo delator também citou o
ministro da Saúde, Ricardo Barros.
Fanini chegou a ser preso devido ao seu envolvimento no
esquema e é apontado pelos investigadores da Quadro Negro como peça central da
suposta quadrilha.
Souza relatou ainda que Fanini fez com Richa uma
"viagem da vitória" em novembro de 2014 para Miami e Caribe para
comemorar a reeleição do político no primeiro turno ao governo do Paraná. O
empreiteiro disse que deu US$ 20 mil em espécie ao servidor para levar no tour.
Contou ainda eque Fanini disse "que durante a viagem
comprou um relógio rolex e deu de presente para o Beto Richa. Depois ele me
mostrou fotos dessa viagem e de outras situações de lazer com o Beto
Richa".
MESADA
O relator afirmou no acordo de delação que quando Fanini foi
nomeado presidente da Fundepar, autarquia que cuidaria de toda a parte
administrativa da Secretaria de Educação, inclusive da construção das escolas
públicas, ele passou a dar uma mesada de R$ 100 mil que seria, segundo
depoimento, direcionada ao governador.
"A gente daria R$ 100 mil por mês a ele [Fanini],
porque o Beto vai ser candidato a senador, o Pepe Richa (irmão do governador)
vai ser candidato a deputado estadual e o Marcelo Richa (filho do governador) a
deputado estadual", disse.
A mesada durou pouco tempo, segundo Souza, porque meses
depois de assumir a Fundepar, Fanini foi exonerado com a a deflagração da
Operação Quadro Negro.
O delator conta que Fanini "dizia que era amigo pessoal
do governador Beto Richa, com quem jogava tênis frequentemente, e as famílias
se frequentavam mutuamente. O Fanini comentou comigo que tinha conversado com o
governador e que a gente estava 'bem', por conta dos valores que estávamos
arrecadando para a campanha dele".
O empreiteiro relatou que entregou cerca de R$ 12 milhões em
espécie a Fanini desviados das construções de escolas públicas que nunca foram
terminadas. "Ele [Fanini] disse que, conforme acertado com o governador,
parte desses valores ficaria com ele e parte iria para a campanha [de Beto
Richa]".
Souza relata que os desvios chegavam ao tucano pela seguinte
via: o empreiteiro repassava a propina a Fanini que direcionava parte do
montante a Ezequias Moreira da Silva, outra parte a Ricardo Rached e outra
parte a Luis Abi Antoum. Os dois primeiros são assessores de Richa no Palácio
Iguaçu e o último, primo dele.
O delator detalhou que primeiramente as entregas a Fanini
aconteceram no banheiro da Sude, braço da Secretaria de Educação dirigido por
ele.
Posteriormente, os valores, diz o delator, passaram a ser
muito altos e, segundo a versão dele, o dinheiro começou a ser camuflado em
caixas de garrafas de vinho.
"Eu pegava, por exemplo uma caixa com 12 garrafas,
deixava apenas duas e preenchia o restante da caixa com dinheiro. Eu deixava
apenas duas garrafas para que fizesse barulho quando alguém pegasse e não
levantasse suspeitas".
OUTRO LADO
Por meio de nota, o governador Beto Richa classificou de
"mentirosas" as declarações do delator.
"O governador Beto Richa classifica as declarações do
delator como afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua
pena. Tais ilações sequer foram referendadas pela Justiça. E suas colocações
são irresponsáveis e sem provas. O governador afirma que nunca teve qualquer
contato com o senhor Eduardo Lopes de Souza e sequer fez ou pediu para alguém
fazer qualquer solicitação a essa pessoa para a campanha eleitoral de 2014.
Todas as doações eleitorais referentes à eleição de 2014 seguiram a legislação
vigente e foram aprovadas pela Justiça Eleitoral", disse.
Segundo o governador, a "Procuradoria-Geral do Estado
também entrou com ações civis públicas na 1ª, 4ª e 5ª Varas da Fazenda Pública
por dano ao erário contra a construtora Valor e pessoas ligadas à empresa,
incluindo o senhor Eduardo Lopes de Souza. Os pedidos de indenização pelos
danos causados ao Estado somam R$ 41.091.132,80. Há ainda ações de improbidade
administrativa contra os envolvidos, que também buscam ressarcimento dos cofres
públicos".
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