Editorial O Estado de S.Paulo
Desde o dia 1.º de setembro, o Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto (MTST) ocupa uma área de 70 mil m², em São Bernardo do Campo (SP), de
propriedade de uma construtora. Atualmente, há cerca de 7 mil famílias no
local. As lideranças do movimento, que retratam o acampamento Planalto como a
maior invasão da história do MTST, já avisaram que não obedecerão às ordens
judiciais.
“Se a aposta, seja do Judiciário, seja do governo ou da
prefeitura, for no conflito, no enfrentamento, e determinarem retirada, o
despejo, sem nada, sem nenhuma solução, evidentemente pode gerar uma situação
de resistência”, afirmou Guilherme Boulos, o chefe do MTST, que não esconde sua
estratégia de intimidação. “Talvez, cinco anos depois, teremos um novo
Pinheirinho no Estado”, disse Boulos, referindo-se ao episódio da desocupação
de um terreno em janeiro de 2012 em São José dos Campos, onde houve confronto
dos invasores com a Polícia Militar.
Em nota divulgada por ocasião de um mês da ocupação em São
Bernardo do Campo, as lideranças do MTST reiteraram que a possibilidade de
“solução pacífica” existe apenas se as autoridades aceitarem o que eles exigem.
“O movimento e as famílias insistem numa saída pacífica, mas para isso é
necessário que se negocie e seja encontrada uma solução onde as famílias que
buscam seu direito à moradia não fiquem em segundo plano”, diz a nota.
É contraditório o modo de atuar do MTST. Guilherme Boulos e
sua turma não dialogaram com ninguém antes de invadir o terreno. Agora, feita a
ocupação, falam em diálogo e em negociação. A ameaça está posta: ou aceitam o
que eles exigem ou haverá enfrentamento. E o que eles exigem tem pouco a ver
com a moradia da população. Seu esmero é voltado para os interesses do MTST.
Por exemplo, as lideranças postulam que o movimento seja o intermediador do
contrato de construção com o programa Minha Casa, Minha Vida – Entidades, do
governo federal. Ou seja, não cumprem a lei e ainda querem receber dinheiro
público para ampliar suas atividades e sua influência.
A ocupação do MTST em São Bernardo do Campo, cujo prefeito é
do PSDB, tem clara conotação política. Os moradores e comerciantes da região
denunciam que “a maioria dessas pessoas não tem a ver com moradia de São Bernardo”,
afirmou Marcos Pasin, que mora ao lado do terreno ocupado. “Basta ver que
durante o dia não fica quase ninguém aí”, acrescentou, referindo-se aos
barracos instalados na área invadida.
O caráter político da atuação do MTST não é segredo.
Conforme informa o site do movimento, “o MTST tem como seu maior objetivo a
luta contra o capital e o Estado que representa os interesses capitalistas”.
Mais adiante, reconhece: “Afirmamos que o MTST não é um movimento de moradia.
(...) A bandeira de uma reforma urbana profunda e popular torna-se uma luta
fundamental contra os interesses do capital”.
Fica claro, portanto, que não devem ser levadas muito a
sério as palavras de Guilherme Boulos ao Estado, de que “a ocupação é uma forma
de pressionar o poder público para fazer o que ele deveria fazer sem ocupação,
que é política pública de habitação”. Ou que “a ocupação, neste momento em São
Bernardo, tem a ver com organização de demanda. A crise social está se
agravando no País e, com isso, mais e mais pessoas têm procurado o MTST para
fazer a luta por moradia”, disse Boulos.
É incompatível uma real preocupação por moradia com o uso de
famílias carentes para causas políticas. Mais do que batalhar por melhores
condições sociais de uma parcela da população, o MTST aproveita-se da situação
de vulnerabilidade dessas pessoas para seus fins políticos. De uma crueldade
assustadora, essa tática revela com enorme nitidez a sintonia entre o MTST e o
PT de Lula. A suposta defesa dos trabalhadores e dos pobres é apenas a camada
externa de uma atuação política indiferente à lei, à democracia e ao interesse
público.
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