sexta-feira, 8 de junho de 2018

DEBORAH COLKER: PRÊMIO NA RÚSSIA 'FOI O PRIMEIRO GOL DO BRASIL NA COPA'

Artigo de Fernando Gabeira
Moscou – Foi o primeiro gol do Brasil na Copa. Com essa frase, Deborah Colker comemorou o prêmio internacional Benois de La Danse que ela recebeu na noite desta terça-feira (dia 5) no Teatro Bolshoi, ao lado dos melhores bailarinos do mundo.
Deborah venceu pela coreografia do espetáculo “Cão sem plumas”, de 2017, baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto publicado em 1950, e comemorou ao lado de Gringo Cardia, responsável pelos cenários da peça e colaborador da companhia que completa agora um quarto de século.
Como em muitos espetáculos anteriores, o trabalho de Deborah é sempre recebido com críticas do tipo “isso não é dança”. No entanto, foi reconhecido por um júri internacional e emocionou os espectadores no teatro-sede do Ballet Bolshoi, um ícone da dança clássica mundial.
— Fizemos uma viagem de 25 dias por Pernambuco, montando oficinas e discutindo com a população ribeirinha. Mas o poema de João Cabral não trata apenas dos ribeirinhos do Capibaribe: é uma mensagem universal sobre o sofrimento e a resiliência humanas — disse a coreógrafa e diretora da companhia que leva o seu nome.
O “Cão sem plumas” de Deborah Colker utilizou também imagens de cinema realizadas por Claudio Assis. Não foi apenas mais um espetáculo com imagens. Imagens e bailarinos interagem de uma forma diferente, a impressão que quis dar é que pertencem a um universo único, transitando da tela para o palco e vice-versa.
Deborah e Gringo Cardia estavam no Hotel Metropol, um clássico hotel de Moscou, vizinho ao Teatro Bolshoi, ao Kremlin e à Praça Vermelha. A entrada do Metropol é decorada com um cartaz do Benois de La Danse.
Quando ela afirmou que sua vitória internacional era o primeiro gol do Brasil na Copa não estava longe da realidade. A letra O no cartaz lembra uma bola e a Copa do Mundo — que para dizer a verdade não empolga os russos tanto quanto a dança e a literatura.
Foram esses admiradores da dança que ficaram emocionados em ver, num telão instalado no palco, os bailarinos cobertos de lama, representando pessoas exploradas e esquecidas, mas resistindo com dignidade.
Os russos conhecem bem o sofrimento humano. Sua história é marcada por ele, desde as invasões mongóis entre os séculos XIII e XV, o cerco a Leningrado na Segunda Guerra Mundial, os exílios na Sibéria e os gulags promovidos pelo estalinismo.
A vitória do espetáculo “Cão sem plumas”, segundo Deborah, não é apenas da dança e da poesia de João Cabral, mas da resiliência do povo brasileiro.
Artigo publicado no Segundo Caderno do Globo em 06/06/2018
Foto: Gabeira
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