Ainda se comenta o inesperado sucesso de Marina Silva no
debate da Rede TV, quando confrontou Jair Bolsonaro, que depois reclamou: “Ela
gritou comigo, me interrompeu, e eu a tratei com a maior cordialidade
possível”. Na verdade, ela não gritou. Com aquela fala mansa e sem levantar a
voz fraca, ela lhe deu uma desconcertante lição.
“Você é deputado, você é pai de família, Bolsonaro. A coisa
que uma mãe mais quer é ver o filho educado para ser um cidadão de bem, e você
fica ensinando os nossos jovens a resolver tudo no grito, na violência. Um dia
desses, você pegou a mãozinha de uma criança e ensinou como se faz para
atirar”. E repetiu para ele, evangélico como ela, que não era essa a pregação
da Bíblia.
“A Marina conseguiu resolver ali a suspeição de que é
frágil”, disse o cientista político Leonardo Barreto, da UnB, acrescentando:
“Ela se mostrou forte, sem medo de machismo, deixando Bolsonaro constrangido”.
Conheci a candidata da Rede há 30 anos, no Acre, e isso não
é uma declaração de voto, mas um testemunho de repórter. Do seu histórico
médico constavam a primeira de três hepatites, cinco malárias e uma
leishmaniose, o que não a impedia de comandar os “empates”. Essa tática eficaz
de resistência pacífica criada por seu mestre, o seringueiro Chico Mendes,
consistia em organizar grupos de homens, mulheres e crianças para impedir o
desmatamento da Floresta Amazônica. Enquanto isso, estudava. Em dez anos,
aprendeu a ler, a escrever e completou sua licenciatura em História.
Há tempos, Ciro Gomes fez pouco da adversária: “Não vejo ela
com energia, e o momento é muito de testosterona”. Não se lembrou daquele
recém-eleito presidente, anunciando em 1991, ao lado do próprio Ciro, então
governador do Ceará, que nascera com “aquilo roxo” — mas logo perderia a cor.
Agora, foi a vez de o ex-presidente FH alegar que falta a
Marina, a quem ele admira, “um pouco de malignidade”.
Ela discorda dos dois e diz que o que está faltando de fato
é “um pouquinho de virtude”.
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