O ex-governador do Paraná Beto Richa, candidato ao Senado
pelo PSDB, foi preso na manhã desta terça-feira pelo Grupo de Atuação Especial
de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em Curitiba, no Paraná.
Beto Richa é alvo de duas operações: uma realizada pelo
Ministério Público do Paraná (MP-PR), pela qual foi preso, e outra da Polícia
Federal (PF), em uma nova fase da Lava Jato. Na 53ª etapa da Lava Jato, a casa
de Beto Richa foi alvo de mandado de busca e apreensão.
A defesa de Beto Richa informou, por meio de nota que, até
agora não sabe qual a razão das ordens judiciais e que ainda não teve acesso à
investigação.
O G1 entrou em contato com a assessoria de
comunicação do PSDB para questionar como fica a candidatura de Beto Richa,
porém, até a última atualização desta reportagem, o partido ainda não tinha se
manifestado.
Na última pesquisa Ibope, divulgada em 4 de setembro, Beto
Richa aparecia em segundo lugar – com 28% da intenção de votos.
Veja a lista dos mandados de prisão:
- Fernanda
Richa (presa)– esposa de Beto Richa e ex-secretária da Família e
Desenvolvimento Social
- Deonilson
Roldo (preso) – ex-chefe de gabinete do ex-governador
- Pepe
Richa (preso) – irmão de Beto Richa e ex-secretário de
Infraestrutura
- Ezequias
Moreira (preso)– ex-secretário de cerimonial de Beto Richa
- Luiz
Abib Antoun (preso) – parente do ex-governador
- Edson
Casagrande (preso) – ex-secretário de Assuntos Estratégicos
- Celso
Frare (preso) – empresário da Ouro Verde
- Aldair
W. Petry
- Dirceu
Pupo - contador
- Joel
Malucelli - empresário J.Malucelli
- Emerson
Cavanhago
- Robinson
Cavanhago
- Túlio
Bandeira
- André
Felipe Bandeira
As prisões são temporárias, com validade de cinco dias. Ao
todo, são 15 mandados de prisão. Até o momento, oito pessoas foram presas.
A investigação do Gaeco é sobre o programa Patrulha do
Campo, que faz a manutenção das estradas rurais. A operação foi batizada de
"Rádio Patrulha".
O coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, explicpu que o
programa Patrulha do Campo era um serviço que consistia na locação de máquinas
pelo Governo do Paraná para a conservação de estradas rurais.
Com exceção de Antoun, detido em Londrina, no norte do
Paraná, os demais foram presos em Curitiba. Deonilson
Roldo é réu na Lava Jatoe também foi alvo de prisão da PF.
Além de ser proprietário da J. Malucelli, Joel Malucelli
também é dono da Band, da BandNews, da CBN e do Metro Jornal, em Curitiba.
As empresas Cotrans, Ouro Verde e J. Malucelli são
investigadas por fraude no programa do governo estadual Patrulha do Campo.
Por meio de nota, a J. Malucelli Equipamentos negou a
participação em qualquer irregularidade e disse que não firmou qualquer
contrato com o Governo do Paraná relacionado às Patrulhas Rurais.
A defesa de Deonilson Roldo informou que ainda não teve
acesso às ordens judiciais.
O G1 também tenta contato com a defesa de
todos os citados na reportagem.
De acordo com o MP-PR, a operação do Gaeco apura
direcionamento de licitação para beneficiar empresários, pagamento de propina a
agentes públicos e lavagem de dinheiro do Patrulha do Campo, entre 2012 a 2014.
Há ainda 26 mandados de busca e apreensão em Curitiba,
Londrina, Santo Antônio do Sudoeste e Nova Prata do Iguaçu.
53ª fase da Lava Jato
A 53ª fase da Operação Lava Jato prendeu três pessoas em
Curitiba. São elas:
- Deonilson
Roldo – ex-chefe de gabinete de Beto Richa
- Jorge
Theodócio Atherino – empresário apontado como operador financeiro
do ex-governador
- Tiago
Correia Adriano Rocha – indicado como braço-direto de Jorge
O G1 tenta contato com a defesa deles.
Batizada de "Piloto", a 53ª etapa da Lava Jato
cumpriu 36 mandados judiciais em Salvador (BA), São Paulo (SP), Lupionópolis
(PR) Colombo (PR) e Curitiba (PR).
O codinome "Piloto", de acordo com a força-tarefa
da Lava Jato, se refere a Beto Richa na planilha da Odebrecht.
A investigação apura um suposto pagamento milionário de
vantagem indevida em 2014 pelo setor de propinas da Odebrecht em favor de
agentes públicos e privados no Paraná, em contrapartida ao possível
direcionamento do processo licitatório para investimento na duplicação,
manutenção e operação da PR-323.
Ainda segundo a PF, os crimes investigados na atual fase são
corrupção ativa e passiva, fraude à licitação e lavagem de dinheiro.
Do total de mandados, três são de prisão (duas preventivas e
uma temporária) e 33 são de busca e apreensão.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), empresários da
Odebrecht realizaram um acerto de subornos com Deonilson Roldo, para que ele
limitasse a concorrência da licitação para duplicação da PR-323, entre os
municípios de Francisco Alves e Maringá. Em contrapartida, a Odebrecht pagaria
R$ 4 milhões a Roldo e ao seu grupo.
O esquema teria sido ajustado em três reuniões entre Roldo e
representantes da empreiteira. No entanto, após perícia da PF nos sistemas
Drousys e MyWebDay do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, foi
verificado que foram pagos R$ 3,5 milhões em cinco pagamentos entre setembro e
outubro de 2014. Os valores teriam sido entregues em São Paulo, em um
condomínio relacionado à sogra de Jorge Atherino.
As reuniões e o acerto da propina
Conforme os procuradores, as provas indicaram que, após uma
primeira reunião, Roldo voltou a se encontrar com executivos da empresa,
informando que a ajudaria ilegalmente na licitação, mas para isso contava com o
auxílio da empresa na campanha do governador daquele ano de 2014.
"Desta maneira, segundo as evidências, ele solicitou
propinas para vender atos praticados no exercício de sua função pública, com o
pretexto de que supostamente elas seriam usadas em campanha", afirmou o
MPF.
A terceira reunião teria ocorrido em 14 de fevereiro de
2014. No encontro, ainda segundo o MPF, o então chefe de gabinete afirmou que
tinha procurado as empresas CCR e Viapar e que elas teriam indicado que não
participariam da licitação. No entando, o Grupo Bertin tinha interesse na
concorrência por intermédio da empresa Contern.
Após diversos adiamentos dos prazos de entrega das
propostas, em 25 de março de 2014, o Consórcio Rota das Fronteiras, composto
pela Odebrecht, Tucumann, Gel e America foi o único a fazer proposta na
licitação, segundo o MPF, e venceu concorrência pública. O contrato foi
assinado em 5 de setembro de 2014.
Competência
Ao examinar a competência do processo
em que Deonilson Rodo é réu, o juiz federal SérgioMoro – que é
responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância –
considerou o vai e vem do inquérito que investiga Beto Richa em relação a
suposto pagamento de vantagem indevida destinado à campanha eleitoral de 2014,
relacionado ao contrato para duplicação da PR-323.
Inicialmente, o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) mandou o procedimento para Moro, mas
depois determinou que fosse
encaminhado para a Justiça Eleitoral, que devolveu
o inquérito para o magistrado para que fossem investigados os
crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Com um recurso protocolado junto ao Tribunal Regional
Eleitoral do Paraná-PR (TRE-PR), a defesa de Richa conseguiu reverter essa
decisão, e a investigação
voltou para a Justiça Eleitoral.
Moro afirma que, após a última decisão, o inquérito
eleitoral, que fixava a competência na Justiça Eleitoral, foi arquivado. Com
isso, o MPF apresentou a denúncia.
Ainda conforme o magistrado, o rastreamento bancário não
confirmou que os valores recebidos da Odebrecht foram usados exclusivamente na
campanha, mas que também serviram para enriquecimento pessoal, como indicam os
depósitos na conta da empresa de Deonilson Rondo, o que configura o crime de
corrupção.
"Diante do arquivamento do inqúerito eleitoral, a
competência é da Justiça Federal e em particular deste Juízo”, alegou Moro.
De acordo com Moro, há a conexão com investigações em
trâmite na 13ª Vara Federal de Curitiba sobre o próprio Setor de Operações
Estruturadas.
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