Na edição da semana passada, VEJA revelou os detalhes de um
esquema de extorsão que esteve em operação no governo do Ceará até o fim de
2014. Funcionava assim: empresas que tinham créditos tributários a receber do
governo estadual eram convidadas a fazer doações. Quem pagava recebia. Em
acordo de delação premiada, executivos do grupo JBS contaram que em 2010 e em
2014, anos eleitorais, foram visitados pelo então governador Cid Gomes, que
pedia dinheiro para a campanha, procedimento legal naquela época. O que
acontecia na sequência é que nada tinha de legal. Assessores de confiança do
governador apareciam e, sem meias palavras, anunciavam o achaque. Em 2010, a
JBS deu 5 milhões ao grupo. Em 2014, 20 milhões, em troca de receber 97,5
milhões de reais em créditos tributários. Em delações, Wesley Batista confessou
o crime.
"Ciro Gomes comprou o Pros no Ceará e sabia e participava dos
esquemas de corrupção."
Niomar Calazans, ex-tesoureiro do Pros
Ciro Gomes, irmão de Cid e candidato à Presidência da
República, sabia e participava de tudo, segundo acusação feita por Niomar Calazans,
ex-tesoureiro nacional do Pros, o partido que abrigou os irmãos Gomes entre
2013 e 2015. De acordo com Calazans, o esquema ilegal de arrecadação para as
campanhas no Ceará era coordenado pela direção local do partido, comandada por
Ciro, Cid e seus aliados. O candidato do PDT, ainda segundo o ex-tesoureiro,
negociou pessoalmente a “compra” do diretório cearense do Pros por 2 milhões de
reais. Na sexta-feira 31, Ciro divulgou nota em que diz que vai processar o
acusador e VEJA: “Nunca me envolvi em qualquer tipo de corrupção, ilegalidade
ou imoralidade ao longo dos meus 38 anos de vida pública. Vou processar
criminalmente essa revista moribunda e o tal entrevistado que está,
flagrantemente, mentindo a serviço de interesses clandestinos, os quais irei
descobrir”.
Na segunda-feira 3, numa sabatina promovida pelo jornal
Folha de S.Paulo, Ciro revelou que havia descoberto os atores dos “interesses
clandestinos” publicados pela “revista moribunda”: o presidente Michel Temer e
Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB ao Planalto. “Que tal vocês imaginarem que
eles compraram uma matéria caluniosa na revista VEJA? Foram os dois juntos, o
Temer e o Alckmin, todo mundo está sabendo”, disse. Não esclareceu quem era
“todo mundo”, não explicou por que Temer e Alckmin se associariam quando andam
às turras (veja reportagem) e ainda acrescentou uma asneira ao seu estilo: o
Grupo Abril, que edita VEJA, estaria recebendo um financiamento de um banco
oficial e, por isso, a revista inventou a história da extorsão.
Calazans informou que está à disposição das autoridades para
depor. “Reafirmo o que eu falei: Ciro Gomes comprou o Pros no Ceará e sabia e
participava dos esquemas de corrupção”, disse. Segundo ele, depois que pagaram
2 milhões para controlar o Pros, os irmãos Gomes montaram o esquema de
financiamento clandestino. Sobre esse esquema — revelado com números, datas e
valores —, Ciro Gomes nada explicou.
Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2018, edição nº 2599
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