Dono da JBS, o empresário Joesley Batista costuma dizer que
dois dos maiores esquemas estaduais de corrupção ocorreram em Mato Grosso do
Sul e no Ceará. Em ambos os casos, conforme contou em seu acordo de delação
premiada, as engrenagens funcionariam da mesma maneira: para receberem
benefícios fiscais ou créditos garantidos por lei, as empresas precisavam pagar
propina aos governantes. “Se não pagasse, não recebia”, reforçou Wesley
Batista, irmão de Joesley, em depoimento ao Ministério Público. Na semana passada,
a Polícia Federal desferiu um golpe no braço sul-mato-grossense do esquema ao
realizar uma operação na casa do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e prender
seu filho, Rodrigo. Candidato à reeleição, Azambuja é acusado pelos delatores
de receber 70 milhões de reais em troca da liberação de incentivos fiscais.
Segundo a JBS, também houve corrupção nos governos de Zeca do PT e de André
Puccinelli (PMDB), que está preso em decorrência de outra operação policial.
A empresa diz ter desembolsado cerca de 150 milhões em
propina no estado desde 2003. “Em Mato Grosso do Sul, temos o conhecimento de
que essa modalidade é um negócio generalizado no nosso setor de frigoríficos.
Não éramos só nós que tínhamos (de pagar propina)”, disse Wesley em depoimento.
No Ceará, onde a banda tocava de maneira muito parecida, são fartos os indícios
de que a extorsão era generalizada. Em seus acordos de colaboração, os donos da
JBS relataram que em 2014, para receber 97 milhões de reais em créditos devidos
pelo estado, tiveram de pagar 20 milhões de reais em propina. O pedágio, dizem
os delatores, foi cobrado pelo então governador Cid Gomes, irmão do candidato
do PDT à Presidência, Ciro Gomes.
Joesley e Wesley Batista não mencionaram aos investigadores
o nome de Ciro Gomes como participante do enredo criminoso, mas, em entrevista
a VEJA, uma testemunha implicou o presidenciável no caso: “Ciro sabia e
participava, com certeza”, disse Niomar Calazans, ex-tesoureiro do Pros,
partido ao qual os irmãos Gomes estavam filiados quando o esquema cearense
funcionava a pleno vapor. Para sorte do grupo político dos irmãos Gomes, até
agora a Justiça Federal do Ceará não se decidiu nem sobre o pedido da
procuradoria para que a Polícia Federal abra um inquérito a fim de apurar a
extorsão. Enquanto as coisas andam em Mato Grosso do Sul, no Ceará elas ainda
boiam no éter.
Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2018, edição nº 2600
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