quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

QUEDA VERTIGINOSA

Do UOL

Quem não acompanha o mercado financeiro pode estar confuso com a forte queda das ações da fabricante de armas Taurus na Bolsa de Valores. Na véspera, os papéis da empresa despencaram mais de 20%, após o presidente Jair Bolsonaro assinar decreto que facilita a posse de armas no país. Nesta quarta (16), a empresa voltou a cair e já acumula perda de 40% em dois dias.

O tombo acontece depois de a Taurus passar por uma onda de alta no ano passado e no início deste ano. Do começo de 2019 até segunda-feira, as ações da empresa dobraram de preço. Mas por que os papéis da Taurus estão caindo tanto? Facilitar a compra de armas não é positivo para a empresa?.

Três fatores explicam a queda, segundo o economista Pedro Coelho Afonso: venda de ação para embolsar lucro, frustração com o decreto e possibilidade de maior concorrência no setor de armas.

Investidores estão embolsando lucro

De acordo com o economista, a queda nas ações da Taurus depois de um fato importante (a assinatura do decreto sobre a posse de armas) é algo normal no mercado de renda variável e reflete um movimento de venda de ações para embolsar lucros.

"A Bolsa se antecipa ao fato sempre, e as ações se valorizam com essa expectativa. Quando chega próximo ou no dia do anúncio já não existe mais novidade, pois todo o ajuste de preço já havia sido feito antes. Agora é o momento de muitos venderem e realizarem o lucro de dias atrás", disse.

Quando há mais investidores querendo vender ações do que aqueles querendo comprar, é normal que os preços caiam, de acordo com Afonso. "No curto prazo, é natural haver essa queda. Mas no médio e no longo prazo, a tendência é de estabilização", afirmou.

A própria controladora da Taurus vendeu parte de suas ações após a assinatura do decreto. Segundo comunicado da empresa, a Tauruspar Participações, vendeu 260 mil ações ordinárias (com direito a voto em assembleia) e 923 mil preferenciais (com prioridade na distribuição de dividendos) na véspera. Os montantes equivalem a participações de 0,56%, no caso das preferenciais, e de 3,27% das ordinárias.

Decreto frustrou investidores

Outro motivo para a queda nas ações da Taurus seria a frustração de investidores, que esperavam que o decreto assinado por Bolsonaro incluísse mudanças nas regras para porte de armas, a permissão para que o cidadão ande armado nas ruas. O decreto assinado flexibiliza apenas a posse de armas, ou seja, a permissão para manter armas de fogo em casa ou no local de trabalho.

De acordo com Afonso, o impacto do decreto nas vendas da Taurus deve ser muito menor do que seria se fossem alteradas as regras para o porte de armas. "Os investidores entenderam que as vendas serão bem menores do que eles esperavam, então decidiram que era hora de vender as ações", declarou.

Aumento da concorrência pode prejudicar empresa

O terceiro fator que pesa sobre as ações da Taurus é a possibilidade de abertura do mercado de armas a empresas estrangeiras, conforme disse o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na véspera. Para Afonso, a chegada de empresas de fora com tecnologia de ponta poderia diminuir a participação de mercado que hoje a fabricante brasileira detém no país.

"O mercado de armas no Brasil é pouco desenvolvido, e a entrada de grandes empresas do ramo com tecnologia mais avançada poderia causar problemas para a Taurus", afirmou.

Ações disparam 181% em 2018

No ano passado, as ações da fabricante de armas ficaram entre as maiores altas da Bolsa de Valores brasileira, diante da expectativa de que Bolsonaro facilitasse o acesso a armas no país. As ações ordinárias da Taurus saltaram 180,8% em 2018, enquanto as preferenciais acumularam valorização de 130,9%, segundo levantamento da empresa de informações financeiras Economatica.

Somente no mês de setembro do ano passado, os papéis da empresa chegaram a acumular alta de 140%, com a expectativa da eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da República.
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