Embora a mais autêntica pândega brasileira, o Carnaval nem
feriado nacional é. À exceção de estados e municípios onde lei local assim o
designa, o período equivale a dias regulares de trabalho, em que órgãos
públicos e empresas privadas podem exigir atividade normal de seus
funcionários, e faltas podem ser descontadas dos salários. Dispensa é questão
de liberalidade.
Isso vale para um cidadão ordinário —aquele com cara de
palhaço.
Na quarta-feira (27), a Folha flagrou o início da patuscada
na Câmara dos Deputados. Eram seis da manhã, quando o painel de presença da
Casa foi aberto para que os congressistas pudessem marcar seus nomes para a
sessão que só começaria três horas mais tarde.
Antes das 8h, 11 deputados já tinham se registrado. O
interesse nas votações que se seguiriam (acordos internacionais) era próximo de
zero. O motivo real para a madrugada no plenário era garantir presença,
embarcar para o estado de origem e deleitar-se num feriado prolongado.
O salário de um deputado é de R$ 33.763, fora outras benesses,
e o comparecimento a sessões de votação é condição para não haver desconto. Há
muito trabalho pendente nos escaninhos da Câmara, que tem adiante toda a
tramitação de uma reforma da Previdência urgente.
Os congressistas fazem parte da infinitesimal parcela da
população no topo da pirâmide de renda no Brasil. Nesta quinta (28), o
Ministério da Economia alertou sobre a necessidade de aprovação da reforma para
evitar que o PIB per capita do país entre em trajetória de queda.
“Para que o PIB per capita volte a crescer de maneira
sustentável, é necessário que as reformas estruturais ocorram”, diz o
documento. No ano passado, a economia do país avançou decepcionante 1,1%, e a
renda por brasileiro ainda ficou 8% abaixo do patamar de 2013.
Na galhofa parlamentar brasileira, houve a tal renovação,
mas tudo continua como dantes. E você, cidadão ordinário, já está com o feitio
apropriado até a Quarta-Feira de Cinzas.
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