A eleição de Jair Bolsonaro e a extensa agenda de reformas e
oportunidades econômicas no Brasil fazem crescer o interesse internacional pelo
País. Investidores querem saber se o ambiente de investimentos vai ser melhor e
se a reforma da Previdência Social vai passar, entre outras perguntas. Porém
muitas delas revelam desinformação sobre o que o Brasil fez e comprovam que
ainda somos um enigma para a maioria no exterior. Faltam informações sobre o
que já foi feito no nosso país em termos de reformas.
Fica claro para mim que o Brasil, mesmo sendo a oitava
economia do mundo e um dos principais parceiros dos Estados Unidos, da China e
da Europa, é um país de nicho. Ou seja, as pessoas olham o Brasil por
motivações muito específicas. Impressiona quanto o nosso país não é percebido,
com seus problemas, oportunidades e vantagens, de forma precisa.
A chave da desinformação está nas percepções sobre a região.
Parte da opinião pública internacional acha que a América do Sul não está
inserida nos atuais problemas da humanidade. Sem grandes conflitos globais,
ficamos numa região periférica para o fluxo de informações no mundo e, também,
para o debate geopolítico ora em curso. Mas dadas as circunstâncias atuais,
tanto o ambiente econômico do Brasil quanto a configuração geopolítica do mundo
podem favorecer muito o nosso país. Cada vez mais seremos estratégicos na
produção de alimentos e de energia, entre outros aspectos essenciais para a
humanidade.
A imensa maioria nada sabe sobre o País ou se informa apenas
pelo noticiário, que quase sempre é negativo. Na linha tradicional de que good
news are bad news. Basicamente porque o Brasil quase nada faz para divulgar –
de forma consistente – o que se passa aqui. Não temos uma estratégia de contato
com formadores de opinião internacionais nem damos o devido valor à criação de
uma rede de informações sobre o País. Países como a China e a Rússia, por
exemplo, têm estruturas permanentes de divulgação sobre o ambiente de
investimentos em seu território.
Boa parte da divulgação positiva sobre o Brasil é feita
pelas autoridades econômicas, pelas empresas e pelo sistema financeiro, que
divulgam o País para públicos específicos. Por isso somos destinação
preferencial para investimentos diretos e movimentamos expressivo fluxo para
nossos mercados de capitais. No entanto, para outros públicos, mesmo na esfera
de investimentos diretos potenciais, as percepções sobre o Brasil são muito
embaçadas.
A culpa da desinformação é toda nossa e de nosso olhar sobre
nós mesmos. Somos um país egocêntrico, cujos problemas são produzidos
localmente e com muito esmero. Mantemos, ainda, uma relação esquizofrênica: ora
somos os maiores do mundo em algumas coisas, ora somos a lata de lixo da
humanidade. Faltam-nos equilíbrio e isenção ao tratarmos de nós mesmos.
Paradoxalmente, quem se dedica a entender o que acontece no
Brasil consegue fazer um juízo de valor mais correto sobre o País. Com mais
precisão e menos preconceito, podem se analisar os aspectos positivos e
negativos. Daí o relevante fluxo de investimentos, mesmo com parte expressiva
da mídia nacional e internacional jogando contra a imagem do Brasil.
Em 2017 fomos – empatados com a Austrália – o quinto destino
do mundo para investimentos diretos estrangeiros. Podemos ter muito mais. Nosso
potencial está longe de ser totalmente explorado. Em tempos de questionamentos
em torno da globalização, o Brasil é um dos mercados mais atraentes do mundo
por ter população, unidade cultural, vocação para o consumo e necessidade de
investimentos em infraestrutura. Podemos ampliar o sistema financeiro como
novos players. As oportunidades são imensas.
Nos últimos dois anos, o governo da União e o Congresso
Nacional aprovaram reformas absolutamente estratégicas no campo econômico.
Regras eleitorais foram aperfeiçoadas pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal
Federal, resultando num processo eleitoral admirável. Poucos países do mundo
fizeram reformas trabalhistas recentemente. Reformamos os setores de óleo e
gás. Estamos impulsionando um ambicioso programa de parceiras de investimento.
Entretanto, nem a Operação Lava Jato, nem a agenda de reformas mereceram a devida
divulgação quanto aos seus efeitos estruturantes no Brasil.
Devemos entender o nosso privilegiado lugar no mundo, hoje.
Pela primeira vez em décadas temos um governo livre das amarras ideológicas que
favoreceram arranjos e esquemas de privilégio, que, no fim das contas, não
promoveram o bem-estar geral nem o desenvolvimento consistente do nosso país.
Estamos reformando nosso capitalismo em bases de maior competitividade e
transparência. Ao lado do que já foi feito, temos um ciclo de reformas estruturantes
em curso. As oportunidades que se apresentam são excepcionais. E uma boa
comunicação com o mundo exterior será essencial para aproveitá-las.
Assim, além do aprofundamento do processo de reformas, temos
de desvendar o enigma Brasil para investidores e visitantes. E se não soubermos
contar nossa história, alguém a contará por nós, e quase sempre de maneira
negativa. Para tal, a questão da imagem do País deve ser abordada de forma
estratégica. Sem esconder nossos problemas. Mas mostrando a realidade de nossos
avanços.
Contrapondo, sobretudo, à campanha que muitos – dentro e
fora de instituições oficiais – fizeram para denegrir o Brasil por motivos
políticos. Essa não é apenas uma missão de governo. É uma missão de toda a
sociedade. E deve envolver esferas do poder público e da sociedade civil.
Apesar dos pesares, devemos ter orgulho de termos promovido importante avanços
econômicos e institucionais nos últimos anos. E o mundo deve saber mais e
melhor sobre nós.
Murillo de Aragão, é advogado, consultor, mestre em ciência
política, doutor em sociologia pela UNB, é professor da Columbia University
(Nova York)
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