Em meio à instabilidade de um governo em ziguezague, a carta
publicamente outorgada a Sérgio Moro já não é tão branca como o próprio
Bolsonaro, ainda em novembro, anunciou, feito o convite ao então meritíssimo da
Lava Jato. Nas últimas semanas, acumulam-se ocorrências que mostram um governo
frágil, à mercê das bases e da velha política dominante no Congresso – e que
vão derrubando inapelavelmente alguns projetos dos sonhos de Moro.
Já no início do governo, o primeiro revés de Moro foi o
decreto que flexibiliza a posse de armas de fogo. O texto levado à Câmara
atropelou sete restrições do ministro, que ficou chateado, sim, mas
aparentemente relevou.
Depois, o emblemático episódio da criminalização do caixa 2,
tão cara ao ex-juiz que, em sua época de toga, tocava o terror nos partidos e
enquadrava políticos por corrupção e lavagem de dinheiro, infração eleitoral
que nada.
Ao fatiar o pacote anticrime, que altera 14 leis de uma só
vez, Moro disse que se tratava de uma “estratégia” para a tramitação do projeto
e que o governo foi “sensível” às reclamações “razoáveis” de parlamentares de
que o delito é menos grave que o crime organizado violento.
“Caixa 2 não é corrupção. Existe o crime de corrupção e o
crime de caixa 2. Os dois crimes são graves”, rendeu-se o ministro.
Esta semana, experimentou novo dissabor, por assim dizer,
quando se viu instado a recuar do convite à Ilona Szabó, que dirige o Instituto
Igarapé, para assumir uma suplência do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária.
As bases, sim, de novo elas!, insurgiram-se contra a
preferida do ministro e a cientista política foi desconvidada, como mostrou a
entrevista de João Gabriel de Lima.
A interlocutores, Moro avalia que Bolsonaro pode ter se
aborrecido com a reação dos eleitores e pediu a ele que revisse a convocação de
Ilona. O ministro, claro, acatou.
Lembra-se, leitor? O mesmo Bolsonaro, lá atrás, na
empolgação da vitória recém-conquistada nas urnas, declarou após o “sim” de
Moro que entrou para a história. “Foi decisão difícil, ele vai abrir mão da
carreira dele. É um soldado que está indo para a guerra sem medo de morrer”,
disse.
Todos esses impasses em série parecem conduzir o ex-magistrado
a um beco sem saída. Habituado a longos embates no ringue da Justiça, onde
atuou por longos 22 anos, mas ainda tateando no mundo insidioso da política,
Moro deve abrir os olhos.
Cuidado com o fogo amigo!
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