O episódio da desnomeação de Ilona Szabó para uma vaga de
suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)
apequena a biografia do ministro Sergio Moro e engrandece a estultícia do
núcleo duro do governo. Comecemos pela última parte.
Não se questionam as credenciais de Szabó para participar do
Conselho. Ela atua há 15 anos como especialista em segurança pública, tem
título acadêmico na área por instituição estrangeira de renome (Universidade de
Uppsala) e goza de prestígio entre os pares. É verdade que ela se opõe à
política do governo de flexibilizar a posse e o porte de armas, mas essa é uma
posição quase consensual entre os acadêmicos.
Quando as redes sociais do bolsonarismo, capitaneadas pela
incansável prole presidencial, “vetam” o nome de Szabó, revelam uma ignorância
abissal em relação ao que sejam conselhos. Se o objetivo é consolidar certezas
que governantes já têm, nem seria preciso dar-se ao trabalho de criar esses
órgãos.
Eles só existem porque o dirigente sensato sabe que pode
estar errado e procura precaver-se contra seus próprios vieses ouvindo opiniões
qualificadas dissonantes da sua. Idealmente, para tentar contornar o viés de
confirmação, conselhos deveriam reunir mais vozes identificadas com a oposição
do que com a situação.
Quanto a Moro, ao ceder à pressão das hostes duras do
bolsonarismo, revela que está longe de ser o ministro que teria plenos poderes
para acabar com a corrupção. Até entendo que ele não tenha ido como um pitbull
para cima de Flávio Bolsonaro logo na primeira semana de governo. Também acho
razoável que tenha fatiado seu pacote de medidas legislativas. Política,
afinal, se faz com negociações.
Mas, quando ele não consegue nem nomear o suplente de um
conselho relativamente obscuro, é sinal de que a independência, se um dia
existiu, já foi embora. Talvez seja hora de sair também, para preservar a
biografia.
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