Jair Bolsonaro recebeu apoio maciço dos ruralistas. Agora
usa o cargo para pagar a fatura eleitoral. Ontem o presidente foi a uma feira
agrícola e atacou os fiscais do Ibama. Criticou as multas a desmatadores e
prometeu “uma limpa” no órgão que protege as florestas.
Num ambiente em que ainda é tratado como “Mito”, Bolsonaro
não precisou se esforçar para agradar. Ele sinalizou uma nova interferência no
Banco do Brasil para baixar juros cobrados aos ruralistas. Em seguida, anunciou
uma espécie de salvo-conduto para o fazendeiro que matar alguém em sua propriedade.
“Ele responde, mas não tem punição”, explicou.
Os afagos do presidente às milícias urbanas já eram
conhecidos. Agora ele incentiva a atuação das milícias rurais. O Brasil tem uma
longa tradição de pistolagem no campo. Com a mudança proposta ontem, os
matadores podem se livrar de qualquer punição — desde que o alvo dos tiros seja
rotulado como “invasor”.
O discurso de Bolsonaro alarmou religiosos que acompanham os
conflitos pela terra. “Não sei se ele percebe a consequência dessas declarações
irresponsáveis, que insuflam a violência”, critica a freira americana Jean Anne
Bellini, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra. “É um sinal verde para
resolver os conflitos na base da força”, acrescenta.
Há 42 anos no Brasil, a freira diz que os relatos de intimidação
armada têm aumentado nos últimos meses. “Os ânimos estão exaltados, e um
pronunciamento desses só piora as coisas”, lamenta. “Já havia muito fazendeiro
que pensava assim, mas eles tinham pudor de dizer. Agora perderam esse pudor”.
Mestre em educação pela Universidade Duke, ela explica que
os bandos rurais costumam ter ligação com o Estado. “Há uma mistura entre
pistoleiros, grileiros de terra e policiais de folga. São milícias de fato”,
afirma.
Jean Anne era amiga da missionária Dorothy Stang, assassinada
a mando de fazendeiros em 2005. O crime chamou a atenção do mundo para os
riscos que os defensores da reforma agrária correm no Brasil. Passados 14 anos,
perguntei à freira se ela se sente mais ou menos segura. “Menos segura, com
certeza”, respondeu.
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