Com histórico de sete mandatos
na Câmara, pai de um senador, um deputado federal e um vereador, o
presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que “o grande problema” do Brasil “é
a nossa classe política”.
Em outras circunstâncias, a declaração talvez passasse por
mera conversa fiada —mesmo porque o próprio autor se incluiu, aparentemente, na
suposta classe, durante discurso na Federação das Indústrias do Estado do Rio
de Janeiro (Firjan), na segunda-feira (20).
Mas Bolsonaro vive um momento de confronto com os partidos
representados no Congresso,
que tomou proporções mais preocupantes depois de o mandatário ter compartilhado
há poucos dias um texto que
chama o Brasil de ingovernável sem conchavos.
A sequência de atos e manifestações não poderia deixar de
ser interpretada como uma pregação contra o Legislativo —composto, é necessário
recordar, por representantes dos eleitores tão legítimos quanto o chefe do
Executivo. Ou, por outro ângulo, como o ensaio de alguma ofensiva personalista.
Ainda mais porque forças bolsonaristas convocaram atos
em defesa do governo para o domingo (26), com apelos que em muitos casos
perigosamente se misturam com ataques a instituições.
Na mesma segunda, o presidente parece ter se dado conta dos
excessos. Em cerimônia no Palácio do Planalto dedicada à campanha em defesa da
reforma da Previdência, no final da tarde, tratou
de afagar o Congresso. “Valorizamos, sim, o Parlamento brasileiro, que vai
ser quem vai dar a palavra final nesta questão da Previdência.”
Bolsonaro ao menos demonstra entender que seu governo corre
grande risco de malogro caso fracasse a tentativa de mudança do sistema de
aposentadorias. Suas dificuldades nas negociações legislativas, entretanto, são
mais comezinhas: há 11
medidas provisórias prestes a perder a validade nos próximos dias por
falta de votação.
Entre elas há propostas tão relevantes quanto a abertura do
setor aéreo ao capital estrangeiro, a nova regulação do saneamento básico, o
combate a fraudes no INSS e a própria reorganização dos ministérios promovida
pelo atual governo.
Em seu vaivém, o presidente talvez aposte que, dada a
emergência econômica, os congressistas tomarão para si, sem necessidade de
maiores negociações, a penosa tarefa de aprovar projetos que contrariam
parcelas expressivas e setores influentes da sociedade.
Não se minimize a vocação fisiológica ou mesmo chantagista
de boa parte da miríade de partidos nacionais. No entanto a estratégia do
confronto, além de insuflar vozes antidemocráticas, não conta com exemplos
bem-sucedidos na experiência recente do país.
Isso, claro, na hipótese de que exista mesmo uma estratégia.
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