As redes sociais ajudaram a eleger boa parte dos novatos no
Congresso. Agora a devoção ao smartphone começa a cobrar seu preço. Obcecados
pelos aparelhinhos, os parlamentares prestam pouca atenção no que acontece à
sua volta. As consequências do vício puderam ser observadas na noite de
quarta-feira.
A Câmara discutia a medida provisória que cortou ministérios
e remanejou órgãos federais. O governo orientou sua tropa a manter o Coaf no
Ministério da Justiça. Faltou dizer que a tarefa era convencer os colegas, e
não a claque da internet.
Inspirados no presidente tuiteiro, os deputados do PSL
passaram a sessão nas redes. Com o celular em punho, muitos pareciam falar
sozinhos. Faziam transmissões ao vivo no Facebook, no Instagram e no YouTube.
Nos intervalos, aproveitavam para compartilhar memes e correntes de WhatsApp.
Falando para seus seguidores, os governistas atacavam o
Congresso e descreviam os adversários como defensores da corrupção. A pregação
irritou até parlamentares que costumam votar com o Planalto. “Isso aqui não é
um circo em que as pessoas pegam o celular para ficar transmitindo o que se
passa”, protestou o líder do DEM, Elmar Nascimento.
Ele também acusou a bancada do PSL de quebrar acordos, o que
no Parlamento pode ser mais grave que xingar a mãe. “Isso é um procedimento
canalha. Procedimento de moleque”, esbravejou.
O ex-nadador Luiz Lima, um dos novatos que surfaram a onda
bolsonarista, diz que o uso massivo das redes é parte inseparável da “nova
política”. “O eleitor quer saber o que a gente está fazendo. Hoje cada um de
nós é uma emissora de TV”, teoriza.
O problema é que as curtidas virtuais nem sempre dão
resultado no plenário. Os eleitores têm poder de pressão, mas quem decide as
votações são os representantes eleitos. O PSL tem 54 deputados, pouco mais de
10% num universo de 513.
“Enquanto o governo vai sendo derrotado nas votações mais
importantes, eles ficam lá tirando selfies. É uma bancada que só consegue olhar
para si, não enxerga nada do que está no entorno”, debocha o deputado Marcelo
Freixo, do PSOL.
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