Algumas poucas vezes ao longo dos seus primeiros cinco meses
de governo o presidente Jair Bolsonaro surpreendeu positivamente. Sua
declaração contra os que querem ir ao ato de hoje para atacar o Supremo
Tribunal Federal e o Congresso Nacional foi uma dessas vezes. Bolsonaro fez a
afirmação durante café da manhã com jornalistas, o quinto encontro desse tipo
marcado pelo presidente, e que também podem ser incluídos na sua lista de bola
dentro. Quem defender o fechamento do STF e do Congresso “estará na
manifestação errada”, disse. “Isso é manifestação a favor de Maduro, não de
Bolsonaro”, concluiu o presidente.
Não podia estar mais correto. Os Poderes constituídos são a
base da democracia. Pode-se até criticar o Supremo e o Congresso por decisões
que tomarem, mas jamais pregar o seu fechamento. Os que acusam o Judiciário e o
Legislativo pelos problemas de Bolsonaro estão equivocados. Os que sugerem que
a saída é interromper o funcionamento das duas casas maiores são pessoas de
baixa qualificação cognitiva e falam da boca para fora sem medir consequências.
O próprio Bolsonaro já atacou o Supremo mais de uma vez. Ele
também defendeu, pouco antes da eleição, aumentar de 11 para 20 o número de
ministros do STF. “Para equilibrar as coisas”, nas palavras de seu filho
Eduardo, o ideólogo da família, sugerindo um viés de esquerda dos membros da
casa. Bobagem, claro, mas enfim, era assim que os Bolsonaro pensavam no ano
passado. O mesmo filho disse, algum tempo antes, que bastariam um soldado e um
cabo para fechar o Supremo.
O presidente também já bateu à vontade no Congresso. Outro
dia mesmo afirmou que o grande problema do Brasil é a classe política. Nesse
caso o ataque era generalizado, e ele ressaltou que incluía-se dentro da citada
classe problemática. Em momentos mais remotos da sua atividade política,
Bolsonaro defendeu a ditadura, estado que pressupõe um Executivo forte que funcione
sem fazer consultas e sem sofrer avaliações, com o fechamento ou a submissão
dos outros Poderes. Esse é o problema do presidente. Ele diz uma coisa num dia
e outra diferente no dia seguinte.
No café com jornalistas, o presidente disse também que,
embora condene os ataques, nada impede que durante o ato “apareça um infiltrado
defendendo essas ideias e usando a camisa amarela”. Quer dizer, ele condena
quem ataca, mas admite que haja, no meio da manifestação a seu favor, gente
gritando pelo fechamento do STF e do Congresso. Trata-se do famoso “morde e
assopra”. Condena, mas não tanto assim. E, ao que parece, perdoa os que se
equivocarem.
O presidente é ele próprio um infiltrado. Assumiu o comando
da nação depois de anos produzindo declarações contra a democracia e a favor de
qualquer barbaridade que lhe parece apropriada. Como a tortura, por exemplo. O
presidente Jair Bolsonaro é um infiltrado no jogo democrático. Nenhuma dúvida.
O importante é que agora, com o poder que obteve das urnas, continue produzindo
considerações como aquela do café da manhã.
Jogar a favor dos Poderes constituídos é obrigação do
presidente da República. Ao defender o Supremo e o Congresso, Bolsonaro estava
simplesmente cumprindo uma de suas principais atribuições constitucionais. Mesmo
assim pode-se dizer que, vindo de quem veio, ele fez muito bem.
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