Não é de todo improcedente a queixa de Jair Bolsonaro: a
democracia é o pior regime, à exceção dos demais – alguém já disse.
Frequentemente, é refém de interesses que os filhos jamais confessam às mães. É
óbvio? Sim, mas precisa ser dito todo dia: lidar com a classe política
brasileira é atividade com elevadas taxas de insalubridade.
Mas não deixa de ser uma confissão de fraqueza quando um
presidente, com apenas cinco meses de mandato, declara o país “ingovernável” e,
a seguir, recorre às ruas para não fechar as portas. À parte a conjuntura
difícil, parte dos problemas são de sua própria lavra: ele não consegue levar
sequer seu próprio partido, PSL, a agir em bloco em votações decisivas para seu
governo, a toda manhã decide algo do qual recuará ao cair da tarde e, populista
irredutível, não parece sustentar o ônus político da reforma que propõe, a todo
instante acenando com recuos.
Gilmar Mendes não chamou os professores de “idiotas”. Não é
do Centrão a proposta de dar posse de fuzis automáticos para cidadãos comuns. A
imprensa não nomeou a irmã de milicianos para a tesouraria do PSL do Rio. E o
Queiroz não está escondido no apartamento do Chico Buarque em Paris! Foi Jair
Bolsonaro quem, com trinta anos de parlamento, vendeu a ideia de que
controlaria aquilo tudo com seis generais no primeiro escalão. Apontar soluções
simples para problemas complexos é ingenuidade ou má fé (ao benefício da
primeira, por experiência, ele não tem direito).
O presidente fez sua aposta no domingo. Se o nível de adesão
às manifestações não foi suficiente para emparedar as instituições, tampouco
corresponde à imagem de um presidente mergulhado na solidão de seu palácio à
espera da terrível visita. O bolsonarismo raiz mandou recado: ainda estão
rolando os dados.
Defender os termos da Reforma da Previdência e do pacote Anticrime
proposto pelo governo é um ato legítimo e as medidas não conflitam com as
propostas eleitorais do escolhido. Contudo, há grande diferença entre
investigar a conduta de ministros do Supremo Tribunal, pois não estão acima da
lei, e sugerir o fechamento da instituição cuja missão é zelar pela
Constituição. Igualmente distinto é condenar a conduta ética de lideranças dos
partidos e, por outro lado, como se observou, exigir o fechamento do congresso
mediante uma exótica “intervenção militar constitucional”, eufemismo fajuto
para golpe militar.
Defendo uma democracia forte, munida de mecanismos de
contenção sobre atos que tenham por objetivo explícito a abolição de seus
termos. Gente que defende aquilo deveria ser identificada e recolhida às
delegacias de polícia. A quem deseja amordaçar as instituições, sugiro que dê o
exemplo: comece por interditar, inicialmente, sua própria liberdade, se a
considera um bem acessório, descartável ou indesejável ao desenvolvimento
equilibrado de uma nação. É mais coerente.
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