Agosto começou quente e Brasília está em chamas. Não
bastasse a seca inclemente que assola a capital da República nesta época do
ano, o Supremo reabriu impondo derrotas ao governo Bolsonaro, já no primeiro
dia do mês e do semestre do Judiciário, mas com um movimento estranho,
intrigante: a confluência de interesses entre Supremo e o próprio Bolsonaro
quando se trata de Coaf. Aí, é o ministro Sérgio Moro quem arde.
No 1.º de agosto, o Supremo fez um “strike”. Derrubou uma
medida provisória de Bolsonaro, falou grosso sobre o desrespeito aos Poderes,
proibiu a Receita de investigar seus ministros e familiares e confrontou Moro
ao proibir a destruição das mensagens captadas pelos hackers e exigir cópia de
toda a papelada. O Executivo não terá mais acesso exclusivo às conversas que
vêm sendo divulgadas pelo site The Intercept Brasil. Como na Guerra Fria, os
dois lados agora têm bomba atômica.
O arsenal do Supremo, porém, não para aí. Na pauta deste
semestre, há o pedido de suspeição do então juiz Moro no processo que levou o
ex-presidente Lula à cadeia, há a decisão monocrática do presidente Dias
Toffoli de suspender todos os processos com dados do Coaf sem autorização
judicial e, “last but not least”, paira no ar a delicadíssima questão da prisão
após condenação em segunda instância. Todas com potencial de querosene na
fogueira.
Nos holofotes, duras críticas a Bolsonaro e à “transgressão”
contra a independência dos Poderes, como bem bradou o decano Celso de Mello.
Nos bastidores, intensas articulações para dar um basta na desenvoltura do
procurador Deltan Dallagnol, que acumula a dupla condição de porta-voz da Lava
Jato e pivô da crise dos hackers e que ousou brincar de investigar as mulheres
de ministros da mais alta Corte do País – com direito a posteriores vazamentos
para a imprensa.
Num ponto, porém, Bolsonaro e Supremo parecem mirar o mesmo
alvo: o Coaf, o órgão de inteligência financeira que detecta movimentações de
grandes somas de dinheiro sem explicação aparente, e que, por exemplo, foi quem
flagrou aquelas esquisitices do gabinete do filho “01” do presidente, o hoje
senador Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio. Para quem se elegeu
apontando o dedo contra todo mundo, não ficou muito bem.
Ao aceitar a Justiça, Moro só fez uma exigência: atrair o
Coaf para o seu ministério. Assim foi feito no início, mas ele depois não só
perdeu o Coaf como agora, como informa a repórter Thais Arbex, pode perder o
seu escolhido para comandar o órgão, Roberto Leonel, auditor da Receita que
participou diretamente da Lava Jato e atua há décadas em lavagem de dinheiro a
partir de Curitiba.
Então, ficamos assim: o Coaf sai da Justiça, Dias Toffoli
corta as suas asinhas ao bloquear os processos com base em seus achados e
Bolsonaro completa o serviço trocando o chefe do órgão, parceiro de Moro. É
isso mesmo? O Coaf, que tanta importância deveria ter assumido com Moro na
Justiça, só vai minguando… E, com ele, a Lava Jato e o próprio combate à
corrupção em suas diferentes frentes e diferentes dimensões.
Amazônia. Bolsonaro diz que os dados do Inpe sobre
desmatamento “denigrem a imagem do Brasil lá fora”, mas muita gente boa acha
que quem denigre é o próprio Bolsonaro, ao querer esconder a verdade, anunciar
mineração americana em terras indígenas, cortar cabelo na hora da audiência a
um ministro da França, demitir em seu próprio favor o fiscal que cumpriu seu
dever ao multar pesca em área proibida e, enfim, ao dar tantos passos
retrógrados numa área em que o Brasil é superpotência: o meio ambiente. A
verdade dói, a mentira destrói.
Nenhum comentário:
Postar um comentário