quinta-feira, 29 de agosto de 2019

DONA CONJE E AS FEMINISTAS

Mariliz Pereira Jorge, Folha de S.Paulo
Ora, ora, dona Conje apagou o post em que tripudiava de feministas para dizer "amo cuidar de quem eu amo" e fazer bonito com seu digníssimo e com seus seguidores. Resta saber se a ficha caiu e Rosangela Moro percebeu a bobagem de achar que mulheres se engajam num movimento de empoderamento em detrimento das relações amorosas ou se ficou incomodada com as críticas que recebeu pela decoração de sua mesa.
Nunca saberemos. Dona Conje desconversou, disse que não tinha entrado no Instagram e desligou na cara da reportagem.
É compreensível que parte da população tenha limitações intelectuais para entender do que o feminismo trata e se apegue a estereótipos consolidados por vertentes menores, mas barulhentas, do movimento.
Na cabeça de antifeministas, somos feias, frustradas, mal-amadas, pouco femininas, não gostamos de maquiagem, somos contra os homens, o casamento, o trabalho doméstico, não raspamos o sovaco e mais uma montoeira de bobagens. 
O instituto de pesquisa britânico YouGov mostra que percepções equivocadas como essas explicam por que, apesar de 80% das pessoas serem favoráveis à igualdade de gênero e acharem o machismo um problema na sociedade, apenas 34% das mulheres se reconheceram como feministas. Culpa dos estereótipos.
O ponto é que dona Conje é advogada, está --ou deveria estar-- no topo da pirâmide intelectual. Poderia procurar entender a história do feminismo, as reivindicações da onda mais recente, que tem entre suas pautas o combate à violência doméstica, problema grave no país em que seu marido é ministro da Justiça.
Mas não, resolve fazer uma provocação descabida e infantil a um movimento importante, que luta tão somente por igualdade. Ou seja, não entende nada de feminismo. Nem de decoração. A mesa posta, retratada na foto, era de uma cafonice sem fim. 
Mariliz Pereira Jorge
Jornalista e roteirista de TV.
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