sexta-feira, 9 de agosto de 2019

FARINHA DO MESMO SACO

Mariliz Pereira Jorge, Folha de S.Paulo
Durou uma semana a boa impressão que João Doria (PSDB-SP) deixou ao chamar de "inaceitável" as insinuações levianas do presidente Jair Bolsonaro sobre o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB. "Foi uma declaração infeliz", criticou na ocasião.
Bem mais infeliz, verdade, do que seu tuíte sobre a transferência (vetada pelo STF) do ex-presidente Lula para um presídio em São Paulo, mas que, por sua vez, não deixa de ser também infeliz. Ao responder a provocação da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), que afirmou que "a segurança e a vida do presidente Lula estarão em risco sob a polícia de João Doria", o governador desceu um nível na escala da civilidade.
Apelou a uma daquelas frases nível Johnny Bolsonaro Bravo: "O seu companheiro Lula, se desejar, terá a oportunidade de fazer algo que jamais fez na vida: trabalhar". Tsc, tsc, tsc. Diria que é papinho de lavadeira, mas, coitadas das lavadeiras.
Há formas mais inteligentes de pavimentar seu caminho como alternativa antipetista sem cair na baixaria bolsonarista, estratégia já adotada por outro que se colocou na corrida de 2022. Wilson Witzel (PSC- RJ), governador do Rio, é adepto da mesma retórica de Jair, autor de pérolas como, "não sai de fuzil na rua, troca por uma Bíblia. Se você sair, vamos te matar".
Doria já protagonizou no passado episódios em que o debate político descambou e alimentou essa barbárie que nossa política vive. Ao disputar parte do mesmo eleitorado centro-direita, precisa decidir se quer jogar esse mesmo jogo grotesco que ajudou a eleger Bolsonaro ou irá se diferenciar de alguma forma e tentar conquistar os que estão exaustos dessa polarização.
Ao optar pelo bate-boca, João Doria não apenas sai perdendo, porque Bolsonaro já provou que é imbatível no estilo incontinência verbal, mas porque reforça a imagem que muitos eleitores têm dele: farinha do mesmo saco.
Mariliz Pereira Jorge
Jornalista e roteirista de TV.
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