O Brasil vive uma aberração administrativa sem precedentes.
Bolsonaro, o presidente-capitão que tem prazer em tripudiar, fazer pouco caso e
ofender adversários imaginários, enxergando comunistas até debaixo da cama,
acabou subindo de status e é agora classificado como um desastre global –
arrastando junto consigo o prestígio do Brasil, que no plano ambiental levou
décadas para ser erigido com ações de preservação e que em poucos dias virou
cinzas pela negligência gritante do mandatário para com o assunto.
O reputado “The New York Times” classificou o Messias dos
trópicos como “o mais maçante e insignificante dos líderes”. No mundo inteiro,
da Alemanha aos EUA, do Canadá à Noruega, sem contar na mais nova inimiga
preferencial do capitão, a França, diversos protestos repudiaram seus atos
tidos como fascistas e selvagens, perto da barbárie. Bolsonaro resolveu
responder à reação com bravatas. Confunde soberania com soberba. Mistura
conceitos, faz malversação de dados técnicos e explora as fake news para
produzir suas estultices. Ele mesmo se converteu em uma versão satirizada de
Dom Quixote a enfrentar moinhos, trazendo a reboque seu exército de
Brancaleone.
E são muitos ao lado dele a compartilhar do universo
paralelo que criaram. Em um rompante de sabujice explícita, o ministro da
Educação, Abraham Weintraub, chamou o francês Emmanuel Macron de “idiota
oportunista”. O filho Zero Três, Eduardo Bolsonaro, aspirante à vaga de
embaixador em Washington, deu lições de diplomacia tosca endossando o
xingamento. O ministro Onyx Lorenzoni mandou os europeus enfiarem o dinheiro —
R$ 300 milhões que iriam ser lançados aqui sob a forma de contribuição ao Fundo
da Amazônia — lá pelas bandas de suas florestas “que necessitam mais”. E o
titular da pasta do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentou ditar regras para
receber a ajuda.
Ao falarem grosso encenaram um show de patetices, comandado
pelo capitão em pessoa, que ainda recorreu às redes sociais para veicular
vídeos de caça à baleia na Dinamarca como se fossem na Noruega. Só faltaram as
bananas para ornar o festival de cretinices da republiqueta. Mas ainda
estávamos prestes a testemunhar uma cafajestada capaz de causar vergonha alheia
a qualquer brasileiro minimamente digno, que preza pelo respeito ao ser humano.
O governante golden shower, afundando na degradação moral, resolveu fazer um
comentário jocoso digno de borracharia sobre a primeira-dama da França.
Em tom de galhofa, com imagens das respectivas cônjuges dos
dois líderes, um seguidor bolsonarista havia publicado que a razão da “inveja”
de Macron seria a beleza de Michele Bolsonaro em comparação a de Brigitte
Macron. No que o mandatário brasileiro não perdeu tempo e sapecou a sua pândega
sexista: “não humilha, kkkkkkk”. O abominável Bolsonaro das queimadas, como vem
sendo visto lá fora, passou de todos os limites. Isso vindo de um mero “hater”
das redes já seria desprezível. Em se tratando de um chefe de Estado, que
representa a Nação e seus compatriotas, passa do suportável.
A falta de compostura de Bolsonaro na Presidência da
República já era conhecida de boa parte dos brasileiros. Ganhou alcance
planetário e o converteu em um pária global. Transamazônico, literalmente. Por
aqui um movimento intitulado “#DesculpaBrigitte” tentou remediar o estrago.
Recebeu milhares de adeptos não apenas entre o público feminino. O escritor
Paulo Coelho levantou a mesma bandeira e resolveu enviar escusas formais em
nome do Brasil. Espremendo o que ainda restava de credibilidade nacional, o
“Mito” abriu novo flanco de guerra alegando que as terras indígenas
“inviabilizam” o País.
O direito dos índios a parte do território nacional é
garantido pela Constituição, mas isso pouco importa quando o objetivo é
encontrar culpados pelos problemas ambientais. Parece que toda a alegação vale
a pena em seu triste espetáculo de desinformação. Antes o mandatário havia
atribuído a responsabilidade das queimadas a ONGs e, no momento seguinte, aos
produtores rurais. Sem apresentar qualquer prova em um caso ou outro. Com o seu
repertório infindável de bobagens, o presidente age como um doidivanas
inimputável, que pode esnobar recursos, dar falsos testemunhos, difamar
reputações e praticar crimes contra a honra alheia. E não pode.
Na verdade é constrangedor assistir a tantos atentados
retóricos e de comportamento. Na essência, eles escancaram a mediocridade de
comando que tomou o Planalto. Difícil mensurar o tamanho da ruína política que
essa escalada de escárnio e falta de escrúpulos do mandatário no que tange a
questões de interesse mundial vai causar ao País. Mas desde já é possível
prever que ele caminha para um isolamento e irrelevância internacionais em
virtude do ridículo. O Brasil entrou com ele na fogueira. Complicado será não
sair chamuscado de lá.
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