A polarização política continua em plena atividade, e as
redes sociais trabalham no limite da irresponsabilidade de ambos os lados. Na
mesma semana em que surgiu a reprodução de diálogos de alguns procuradores da
Lava-Jato em Curitiba ironizando o luto do ex-presidente Lula na morte de dona
Marisa, o próprio Lula deu uma entrevista à BBC Brasil colocando em dúvida que
o presidente Bolsonaro tenha realmente sido esfaqueado na campanha eleitoral de
2018.
Para os petistas, os comentários dos procuradores denotam
ódio a Lula. Para os bolsonaristas, o comentário de Lula sobre a facada em
Bolsonaro demonstra que, para o ex-presidente, nada é mais importante que a
disputa política.
Os comentários de alguns dos procuradores são lamentáveis, e
a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann foi ao Twitter para condenar,
afirmando dramaticamente: “Diálogos de procuradores mostram a pior face do ser
humano”.
Pode ser exagerado, mas sem dúvida a ironia numa hora dessas
é descabida, e revela frieza diante de tragédias pessoais que pode chocar almas
mais sensíveis como a da presidente do PT.
Tanto que a procuradora Jerusa Viecili, a mais irônica nos
diálogos, pediu desculpas ao ex-presidente Lula por ter feito chacota de seu
luto: “Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à
pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, disse, também através do
Twitter.
As conversas revelam que diversos procuradores fizeram pouco
caso das mortes não apenas de dona Marisa, mas do neto Arthur, e do irmão Vavá.
“Querem que fique pro enterro?”, perguntou, ironicamente, Jerusa, diante da
notícia da morte de Marisa. “Preparem para a nova novela ida ao velório”,
escreveu no Telegram, sobre a morte do neto Arthur.
O Procurador Januário Paludo comenta, se referindo a dona
Marisa: “Estão eliminando as testemunhas”. Já Laura Tessler adverte: “Quem for
fazer a próxima audiência de Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência
para a sessão de vitimização”, escreveu.
Mas há também comentários pertinentes, sobre o temor de que
Lula no enterro do irmão causaria muita confusão política. Ou rebatendo a
afirmação de Lula de que dona Marisa havia morrido devido ao que a Lava-Jato
fez com ela e com os filhos.
Quando o ex-presidente comentou no enterro do neto que ele
havia sofrido bullying na escola por ser um Lula da Silva, a procuradora
Monique Cheker criticou: “Fez discurso político (travestido de despedida) em
pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação
do policial que fez a escolta… vão vendo”.
Eduardo Bolsonaro já havia se manifestado nas redes sociais
sobre a ida de Lula ao enterro do neto no mesmo tom: :”Lula é preso comum e
deveria estar num presídio comum.
Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado”.
Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado”.
Os diálogos revelam também que vários procuradores chamaram
a atenção dos que estavam ironizando a dor do ex-presidente Lula. Carlos
Fernando dos Santos comenta: Vamos ficar em silêncio. Ninguém ganha falando mal
de quem morre ou da família. O procurador Luis Carlos Welter adverte: Ninguém
pode medir a dor de quem perde a pessoa amada. Fazendo esse discurso político,
ele mesmo vai se prejudicar.
Mas, o que dizer do ex-presidente Lula, cujos comentários
não foram conseguidos clandestinamente, mas em entrevista à BBC Brasil? Ele
insistiu na suspeita, alimentada desde então por petistas de diversos calibres,
de que a facada em Bolsonaro, durante a campanha eleitoral, foi uma fraude.
“Não, eu não disse que não tinha tomado, eu disse que não
acreditava (que Bolsonaro levou uma facada). Mas você garante a mim o direito
da dúvida? Veja, eu tenho suspeitas (de que não ocorreu). Agora, se aconteceu,
aconteceu.”.
Ele continuou: “Eu falei com muita tranquilidade desde o dia
que aconteceu aquilo, porque não vi sangue. O Bolsonaro deu uma entrevista
assim que chegou no hospital. Ele foi internado, já tinha um senador fazendo
uma entrevista.”.
Os petistas como Paulo Pimenta reproduziram em suas redes
sociais um documentário apócrifo intitulado “A Facada no Mito”, postado no
YouTube. Sem apresentar nenhuma evidência, o documentário destaca o que seriam
“dúvidas” ridículas sobre o atentado.
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