A palavra imexível é uma criação do ex-ministro do Trabalho
e Previdência Social Antônio Rogério Magri, por ocasião do lançamento do
chamado Plano Collor, em 1990. Sindicalista, o então ministro referia-se ao
direito de greve. O termo acrescenta o prefixo negativo latino in ao adjetivo
mexível, o que é chamado de neologismo léxico. A expressão foi ridicularizada,
mas não tinha nada de errado e, por isso mesmo, entrou para o dicionário
político nacional. É usada toda vez que um ministro tem muito prestígio e não
pode ser exonerado pelo governante, sem que isso cause grande desgaste político
e o defenestrado vire um concorrente natural.
É o caso do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que estava
sendo fritado pelo presidente Jair Bolsonaro por se opor à decisão do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, que
suspendeu todas as investigações que estavam sendo feitas pela Polícia Federal
com base em informações fornecidas sem autorização judicial pela Comissão de
Controle de Operações Financeiras (Coaf). A liminar fora requerida pela defesa
do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, que
estava sendo investigado no caso do seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Moro
articulava a derrubada da liminar pelo plenário do Supremo; Bolsonaro ficou
sabendo.
A reação de Bolsonaro foi muito dura. Transferiu o Coaf do
Ministério da Justiça para o Banco Central, cujo presidente, Roberto Campos
Neto, substituiu o chefe do órgão por um funcionário de carreira da
instituição. O presidente da República também exigiu mudanças nos quadros da
Receita Federal e da Polícia Federal no Rio de Janeiro, cujo superintendente
será substituído, sob pena de demitir o diretor-geral da Polícia Federal,
Maurício Valeixo. Apesar do mal-estar criado entre os delegados federais, a
mudança acabou aceita. Moro recuou, e Bolsonaro manteve o ministro, antes que
as críticas ao seu comportamento tirassem a bandeira do combate à corrupção das
suas mãos.
Esse é o busílis da questão. A bandeira da Lava-Jato é mais
de Moro do que de Bolsonaro. O prestígio popular de Moro, apesar da crise
causada pela revelação de suas conversas com os procuradores da força-tarefa da
Lava-Jato pelo site Intercept Brasil, permanece inabalável na opinião pública,
apesar de ter queimado o filme no mundo jurídico. A imparcialidade do juiz é um
valor cultivado entre magistrados, porém, a troca de figurinhas entre juízes e
promotores durante as investigações é mais frequente do que se imagina. Além
disso, a opinião pública adora o linchamento moral dos políticos, ou seja, quer
mais é que o juiz “prenda e arrebente”.
Alternativa
Desde quarta-feira, Bolsonaro e Moro tentam desfazer o mal-estar criado entre o Palácio do Planalto e a Lava-Jato por causa do caso do filho do presidente da República. Ontem, o governo federal lançou um projeto-piloto de ações conjuntas com estados e municípios para enfrentar crimes violentos. As ações serão desenvolvidas em Ananindeua (PA, Norte), Paulista (PE, Nordeste), Goiânia (GO, Centro-Oeste), Cariacica (ES, Sudeste) e São José dos Pinhais (PR, Sul). São R$ 4 milhões por cidade, num total de R$ 20 milhões do orçamento do Ministério da Justiça.
Desde quarta-feira, Bolsonaro e Moro tentam desfazer o mal-estar criado entre o Palácio do Planalto e a Lava-Jato por causa do caso do filho do presidente da República. Ontem, o governo federal lançou um projeto-piloto de ações conjuntas com estados e municípios para enfrentar crimes violentos. As ações serão desenvolvidas em Ananindeua (PA, Norte), Paulista (PE, Nordeste), Goiânia (GO, Centro-Oeste), Cariacica (ES, Sudeste) e São José dos Pinhais (PR, Sul). São R$ 4 milhões por cidade, num total de R$ 20 milhões do orçamento do Ministério da Justiça.
Ao apresentar o projeto batizado de “Em frente Brasil”, no
Palácio do Planalto, Bolsonaro encheu a bola do seu ministro da Justiça e
Segurança Pública. Aproveitou a ocasião para dizer que Moro é um “patrimônio
nacional” e agradeceu a presença do ministro no governo: “Obrigado, Sérgio
Moro. Vossa senhoria, o senhor abriu mão de 22 anos de magistratura para não
entrar em uma aventura, mas, sim, na certeza de que todos nós juntos podemos,
sim, fazer o melhor para a nossa pátria”.
Bolsonaro sabe que a eventual saída de Moro do governo seria
um desastre, porque o ministro carregaria consigo a bandeira da Lava-Jato e se
tornaria, no dia seguinte, um forte candidato a presidente da República.
O Podemos, partido presidido pela deputada Renata Abreu
(SP), tem hoje a segunda bancada do Senado, com nove parlamentares. Liderado
pelo senador Álvaro Dias (PR), está de braços abertos para a eventual
candidatura de Moro a presidente da República. A legenda trabalha para se
tornar a maior bancada da casa. Para isso, tenta atrair os senadores Flávio
Arns (Rede-PR) e Major Olímpio (PSL-SP).
Volto logo — Durante uma semana me ausentarei da coluna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário