O milagre de Bolsonaro
O preço do despreparo
E que não se diga que faltam ministros competentes, embora
em número aquém do desejável. Mas este é um governo cujo presidente veio do
baixo clero e a ele voltará quando for esquecido. Um presidente que se lançou
candidato só para assegurar o futuro dos filhos. Um presidente eleito por
acidente e que se beneficiou de um.
Um presidente que se orgulha de ter lido poucos livros e de
guardar na cabeceira de sua cama o relato das memórias do único militar
brasileiro condenado por tortura. Um presidente que por soberba e ignorância só
pensa em destruir tudo o que julga errado para construir mais tarde o que nem
ele mesmo sabe direito o quê.
Seria preciso dizer mais sobre o ex-capitão Jair Messias
Bolsonaro que enfrenta dificuldades até para expressar-se na língua em que foi
alfabetizado? Pois bem: esse cidadão é autor do prodígio de com menos de oito
meses na presidência ter sido alvo de panelaços por aqui como foi ontem, e de
protestos em várias partes do mundo.
Humilhada na mais recente eleição que perdeu, sem dispor de
ideias novas para oferecer ao país, carente de líderes expressivos e refém de
um pecador condenado e encarcerado por corrupção, a oposição, ou o que restou
dela, vaga sem destino com a esperança de que o tempo faça por si o que ela não
sabe e parece incapaz de fazer.
O tempo foi generoso e a surpreendeu com a reação planetária
contra o descaso do governo do capitão com o meio ambiente. Adversários e
certamente devotos do Mito sentiram-se à vontade para se unir espontaneamente
em defesa de uma causa sem viés ideológico e que está acima de divergências
políticas superficiais ou de fundo.
Bolsonaro acusou o golpe e se repaginou para fazer o
discurso bem-comportado com o qual respondeu às acusações que o atingem, mas o
estrago não ficará menor por causa disso. A Amazônia está em chamas e assim
permanecerá por muito tempo. As queimadas são mais intensas em áreas onde o
desmatamento avança a galope.
O emprego de tropas do Exército para debelar o fogaréu não
dará conta da tarefa dada às dimensões da área que está sendo reduzida a
cinzas. Não basta prender e punir incendiários avulsos. Isso poderá servir
apenas a uma jogada de marketing destinada ao insucesso. Ou Bolsonaro se rende
ao respeito ambiental ou acabará como um pária.
A conversão ao respeito à natureza significará romper com as
promessas que fez de permitir a livre exploração de riquezas em espaços que
deveriam permanecer intocados, o que lhe custará votos e apoios. Mas ou faz
isso ou o país amargará as trágicas consequências do seu comportamento
irresponsável e insano. Vai pagar para ver?
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