A juíza Gabriela Hardt tem lugar cativo no Palácio da Alvorada.
Mais exatamente no closet da primeira-dama. No ano passado, a magistrada
engrossou com o ex-presidente Lula ao interrogá-lo: “Se o senhor começar nesse
tom comigo, a gente vai ter problema”. A frase fez sucesso com a militância
antipetista, e foi parar numa camiseta usada por Michelle Bolsonaro.
Hardt condenou Lula no caso do sítio de Atibaia, mas sua
sentença tinha um pequeno problema. Sem motivo aparente, referia-se à chácara
como “apartamento”. A defesa descobriu o motivo: a juíza copiou e colou trechos
da decisão de Sergio Moro no processo do tríplex.
Quando a barbeiragem veio à tona, Hardt alegou não se tratar
de plágio. Disse que costuma copiar sentenças alheias para economizar tempo.
“Eu raramente começo uma decisão do zero, porque seria um trabalho
desnecessário”, absolveu-se. Errar é humano, e o sítio teria virado apartamento
por mero deslize. “Na revisão, esqueci de tirar aquela palavra”, disse a
magistrada.
No fim de outubro, o Ministério Público Federal pediu a
anulação da sentença por outra razão. Em parecer enviado ao TRF-4, o procurador
Maurício Gerum citou decisão recente do Supremo Tribunal Federal. A Corte
decidiu que os réus delatados têm direito a falar depois dos delatores, o que
não ocorreu na ação contra Lula.
Há duas semanas, o TRF-4 anulou outra sentença em que Hardt
copiou e colou frases de um colega. O caso envolvia uma ex-prefeita do interior
do Paraná, e o desembargador Leandro Paulsen aproveitou para passar um sermão
na juíza. “Reproduzir como seus argumentos de terceiros, copiando peça
processual sem indicação da fonte, não é admissível”, escreveu.
Os dois episódios sugeriam que a condenação do ex-presidente
também seria anulada. Ontem deu-se o contrário, e ele ainda teve a pena
aumentada. O Ministério Público recuou do próprio parecer, e o TRF-4 deixou de
ver o plágio como uma prática desabonadora. No julgamento, o procurador Gerum
ainda acrescentou uma nova acusação ao réu. Lula seria culpado pelo “grave
desequilíbrio político que permite que hoje se chegue ao cúmulo de se dar
alguma atenção a ideias terraplanistas”.
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