Grupos denunciam Bolsonaro ao Tribunal Internacional por “incitação
a genocídio indígena”
Um grupo de advogados e militantes de direitos humanos
informou nesta quarta, 27, que denunciou o presidente Jair Bolsonaro ao
Tribunal Penal Internacional (TPI) por “incitar o genocídio e promover ataques
sistemáticos contra os povos indígenas do Brasil”.
De acordo com os denunciantes, o presidente poderia ser
enquadrado em “crime contra a humanidade”, previsto no Estatuto de Roma,
tratado internacional do qual o Brasil é signatário desde 1998 e que reconhece
o TPI.
Os advogados que entraram com a ação contra Bolsonaro
integram a Comissão Arns, que reúne ex-ministros de Estado e militantes dos
direitos humanos, e o Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos (CADHu), que
atua desde 2012.
O Estado aguarda retorno do Planalto sobre o caso. Em frente
ao Palácio da Alvorada nesta quinta, Bolsonado deu risada ao ser questionado
sobre a denúncia. “Próxima pergunta”, disse.
A denúncia foi apresentada à procuradora-chefe do tribunal,
Fatou Bensouda. De acordo com os acusadores, agora Fatou deve solicitar
informações a Estados, órgãos das Nações Unidas, organizações
intergovernamentais ou não-governamentais e a outras fontes que considere
relevantes. Só então Fatou pode apresentar um pedido de autorização de
investigação à Câmara de Questões Preliminares, ligada ao tribunal.
A ação cita os incêndios na região amazônica, que
deflagraram neste ano a primeira crise internacional do governo Bolsonaro.
“Os incêndios, que ainda se perpetuam na região, geram um
dano ambiental e social desigual e de difícil reversão. Acompanham as pressões
sobre a floresta e associam-se à disputa — frequentemente violenta — pela terra
para empreendimentos agropecuários, grandes obras de infraestrutura, grilagem,
garimpo e exploração de madeira. Tais atividades exercem grande impacto sobre a
floresta e os povos que a habitam e vêm sendo ora estimuladas ora
negligenciadas em seu potencial de degradação”, diz a denúncia.
Entre as penas previstas no Estatuto do TPI estão até 30
anos de prisão e até prisão perpétua em casos extremos. Também são possíveis
sanções como multas e perda de bens.
“Chefes de Estado e de governo têm, perante o direito
internacional, o dever de coibir crimes e proteger populações vulneráveis”,
informam a Comissão Arns e a CADHu em nota. “Por sua gravidade, os crimes sob
jurisdição do TPI não prescrevem. Mesmo que seu mandato tenha terminado,
Bolsonaro continuará passível de punição pelo tribunal.”
O que é o Tribunal Penal Internacional?
Diferentemente da Corte Internacional de Justiça, que examina litígios entre Estados, o TPI julga apenas indivíduos. O tribunal processa e julga indivíduos acusados de crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e, desde 17 de julho de 2018, crimes de agressão.
Diferentemente da Corte Internacional de Justiça, que examina litígios entre Estados, o TPI julga apenas indivíduos. O tribunal processa e julga indivíduos acusados de crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e, desde 17 de julho de 2018, crimes de agressão.
Em julho deste ano, o TPI o ex-líder rebelde congolês Bosco
Ntaganda por 18 crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos entre
2002 e 2003. Entre eles, assassinato, estupro, escravidão sexual e uso de
crianças-soldado. A conclusão foi tomada durante audiência pública em Haia, na
Holanda, sede do TPI, após revisão de documentos e audiências com testemunhas.
A sentença foi anunciada em novembro: 30 anos de prisão. Ele recorre da
decisão.
Réu declarado culpado de escravidão sexual, Ntaganda se
entregou em 2013 na capital de Ruanda, Kigali. Ele pediu para ser encaminhado
ao TPI em Haia, onde ficou preso até 2016. Esse tempo será descontado da
sentença de 30 anos.
A sentença informou que 102 testemunhas prestaram
depoimento, incluindo uma mulher cuja garganta foi cortada por aliados de
Ntaganda. Uma das conclusões da investigação foi que Ntaganda matou a tiros um
padre. /COLABOROU MATEUS VARGAS.
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