Não é novidade o encolhimento da balança comercial. Ocorre
que o tema entrou no radar dos mercados.
As exportações não estão crescendo, com poucas exceções,
como as beneficiadas pela guerra comercial entre EUA e China. A razão principal
é o comércio mundial estagnado. A demanda externa pelos produtos brasileiros é
variável-chave para determinar a performance das exportações.
A cotação do dólar tem influência modesta, afetando mais a
rentabilidade do exportador, e menos o volume exportado. Para começar, quando o
real entra em ciclo de depreciação é porque o dólar está se fortalecendo nos
mercados globais, o que significa que as moedas dos nossos concorrentes também
estão se enfraquecendo.
Outra consideração é que nossos produtos são caros,
refletindo a carga tributária elevada e cumulativa e a infraestrutura
deficiente, entre outros. Não haveria cotação do dólar alta o suficiente para
compensar tantas distorções internas sem causar riscos à dinâmica
inflacionária. E, nesse caso, a depreciação cambial seria, ao final, ineficaz,
pela corrosão inflacionária da taxa de câmbio.
As importações estão em alta. Sem surpresas aqui, afinal, a
economia ganha tração. Mas há algo extra, já discutido neste espaço.
Desde o ano passado, as importações têm crescido mais do que
o sugerido pela recuperação da economia. A participação do produto importado na
cesta de consumo está aumentando, possivelmente, como reflexo do parque
produtivo defasado tecnologicamente. A grave crise, que gerou paralisia
prolongada de investimentos, cobra seu preço.
Enquanto isso, as importações têm sido menos afetadas pelo
dólar forte. É verdade que os salários em dólar mantêm-se em patamares
elevados, preservando a relevante presença dos importados. O ponto é que a
queda dos salários em dólar desde 2018, decorrente do ajuste do câmbio, não está
impedindo o aumento da participação das importações, como ocorria no passado.
O quadro acima deixa claro que o nosso problema não é a taxa
de câmbio fora de lugar. Já perdemos tempo demais discutindo esse tema. Vamos
virar a página e avançar tempestivamente em reformas estruturantes que gerem
ganhos de produtividade e maior competitividade dos nossos produtos e serviços.
O encolhimento da balança comercial deve prosseguir, gerando
elevação do déficit em transações correntes (inclui também a balança de serviços).
Este último atingiu 3% do PIB em outubro. Não é um valor elevado na comparação
com países pares. Porém, chama a atenção a velocidade de deterioração, a
despeito do crescimento modesto da economia e da alta do dólar.
O câmbio será afetado pelo aumento do déficit em transações
correntes? Menos do que se imagina. Na verdade, é o dólar que influencia o
desempenho do saldo externo ao longo do tempo (agora menos do que no passado),
e nem tanto o contrário. Certamente o humor dos mercados pode sofrer impacto,
gerando volatilidade de curto prazo no mercado cambial. O ciclo da taxa de
câmbio, no entanto, é de outra natureza. Decorre do comportamento do dólar no
mundo e da capacidade do País de crescer, atraindo o interesse de estrangeiros
e locais para investirem no Brasil, e não no exterior, financiando, assim, o
déficit em transações correntes.
O déficit externo não é um problema, mas sim suas razões e a
capacidade do País de financiá-lo. Se o País ingressar em um ciclo de
investimento robusto e com a abertura comercial paulatina, ambos ampliando a
importação de bens (maquinário e insumos) e serviços tecnologicamente mais
sofisticados, o déficit externo mais elevado será algo saudável; e também
necessário, diante da baixa taxa de poupança interna do Brasil. Ele ajudará a
impulsionar o crescimento de longo prazo ao elevar a produtividade da economia,
atraindo assim capitais para financiá-lo e afastando pressões cambiais. Não é o
que ocorre no momento, porém.
Há patologias na economia brasileira. São elas que precisam
ser atacadas. O resto é conversa.
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