Se a economia do Brasil der certo, Bolsonaro será reeleito e
a esquerda vai enfrentar dias (ainda) mais difíceis. Se a economia não der
certo, Bolsonaro perderá o apoio dos empresários (que ainda acreditam nele) e a
esquerda vai renascer como movimento (de protesto). Isso é mau para o Brasil.
Um dia, o escritor português Eça de Queiroz falou que a luta
pelo dinheiro é santa — porque é, no fundo, a luta pela liberdade —, mas até
uma certa soma. Passado o limite, é a tristonha e baixa gula do ouro. O mais
importante nesta luta anunciada — entre um Lula agora livre, apoiado num PT com
vontade de vingança, e um Bolsonaro que fala demais e quase não tem partido — é
garantir que essa vil e baixa gula do ouro não faça perigar a democracia. E
esses perigos são muitos e estão por toda parte. Eles crescem nas gargantas de
governantes, senadores, deputados e congressistas despreparados para comunicar,
que não conhecem o poder do silêncio e ignoram o perigo das palavras.
Eles vivem nos excessos táticos, a que os maus políticos em
busca de poder sacrificam a boa estratégia. Eles brotam da boca dos
apresentadores de rádio e televisão que, na esperança de aumentar sua fama e
auditório, incitam ao confronto. Eles se escondem na miséria e na pobreza,
sempre se alimentando da ignorância. Eles estão por todas as parte e são, nesta
altura, os maiores desafios que o Brasil tem para vencer.
Por isso, o ministro Paulo Guedes tem razão quando pede a
todos que sejam responsáveis e pratiquem a democracia. Ele tem todo fundamento
quando fala que convocar as pessoas para a rua é uma insanidade. Mais ainda
quando diz que é preciso prestar atenção na sequência de acontecimentos nas
nações vizinhas para ver se o Brasil não tem nenhum pretexto que estimule
manifestações do gênero. Quando a América Latina se apresenta como um barril de
pólvora prestes a explodir, o Brasil tem a obrigação de se mostrar ao mundo
como uma referência de estabilidade na região.
A questão não é a crise chegar ao Brasil. A questão é o
Brasil ajudar a acabar com a crise dos outros. Prever que a tragédia na
Venezuela, os protestos no Chile e na Bolívia ou a crise na Argentina possam se
alastrar ao Brasil também é uma insanidade, pois coloca essa ideia na cabeça
das pessoas. Como também é uma insanidade se referir o AI-5 como uma
possibilidade, mesmo que remota.
Há palavras que políticos com responsabilidade não podem
dizer.
E alguém tem de ser responsável no Brasil. Você não acha,
Paulo Guedes?
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