Último dia do ano, hora de discutir o que deu certo, o que
deu errado, o que poderia ser melhor. No governo Jair Bolsonaro, a economia
andou devagar, mas andou. O problema foi o resto, que andou rápido, mas em
marcha a ré. Uma coleção de retrocessos.
A reforma da Previdência foi o grande marco político e
econômico de 2019. O grande mérito do governo foi enviar o projeto e o do
Congresso foi ter encaminhado, debatido e votado com razoável rapidez e com a
menor desidratação possível. Bolsonaro jogou o pacote no Congresso e lavou as
mãos, deixando a condução, a negociação, os ajustes e os votos por conta de
dois personagens-chave no seu primeiro ano de governo: Rodrigo Maia, do
Legislativo, e Paulo Guedes, do Executivo. Com a reforma da Previdência aprovada,
abriu-se uma avenida de oportunidades para novas reformas e a própria economia.
A previsão do PIB foi ao fundo do poço em meados do ano, mas
recuperou-se e é otimista neste 31 de dezembro. A inflação e os juros estão
baixos como nunca e o desemprego continua dolorosamente alto, mas caindo. Logo,
as condições são boas. O preço da carne precisa baixar e Bolsonaro tem de parar
de atrapalhar.
Quando se fala (ou reclama) em recuos, pensa-se logo em Meio
Ambiente, que jogou o Brasil na imprensa internacional e abriu atritos
desnecessários com parceiros como França, Alemanha, Suécia. E Bolsonaro também
bateu de frente com China, Argentina, Chile, o mundo árabe, além de chegar no
Paraguai elogiando Stroessner.
Houve ainda recuos assustadores na Cultura, até na última
semana do ano, com o veto ao projeto de incentivo ao audiovisual, e na
Educação, que saiu de um ministro inútil para outro que só vê “balbúrdia” nas
universidades. Cultura e Educação não são inimigas, presidente! Nem a mídia e
os jornalistas.
De tudo isso, fica o histórico de manifestações do
presidente da República, ora machistas, ora homofóbicas, ora pró-ditadores
sanguinários, ora acusando Paulo Freire de “energúmeno”. Para que? Ninguém
sabe, mas o fato é que os filhos vão atrás. Sem citar hienas e “golden shower”,
ambas de péssima lembrança.
Por falar nisso, a ida do deputado Eduardo Bolsonaro para a
Embaixada do Brasil em Washington foi um sonho de verão para ele e um pesadelo
para muita gente, dentro e fora do Itamaraty. E o ano termina deixando em
aberto a situação do senador Flávio Bolsonaro, alvo do Ministério Público do
Rio de Janeiro e com muitas histórias mal contadas a explicar à opinião pública
brasileira. Carlos Bolsonaro? Esse continua lá, tuitando.
Se as pesquisas registram a baixa popularidade do
presidente, não captaram o esforço do Legislativo, que trabalhou muito e bem ao
longo de 2019. Motivo: continua “dando Ibope” falar mal do Congresso. Faz
parte.
Quanto ao Judiciário, esteve no centro da suspeita de um
cerco institucional à Lava Jato. Vamos combinar que o fim da prisão em segunda
instância e os meses de interrupção de investigações pautadas pelo Coaf foram
ataques frontais à maior operação de corrupção, talvez, do mundo. E ambos
conduzidos pelo Supremo.
No foco, o presidente Dias Toffoli, determinado a derrubar a
prisão em segunda instância e autor da canetada que feriu gravemente a atuação
do Coaf e suspendeu as investigações com base na inteligência financeira. O
discurso “em javanês” do ministro é um dos destaques de 2019. Cada um conclua o
que quiser.
No mais, o governo abriu tudo para os EUA, mas, até agora,
ninguém sabe, ninguém viu, no que isso conta a favor dos interesses do Brasil.
A olho nu, não se vê pragmatismo, muito menos reciprocidade. Só Trump ri. Não
tem graça nenhuma.
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