Há alguns ministros da área "sombria" do governo Bolsonaro que
exemplificam a descrição do gênio Millôr Fernandes: "Sua excelência chegou
ao limite da ignorância e, no entanto, prosseguiu". Ela detém controle do
poder palaciano e, com razão, assusta toda a "intelligentsia"
acadêmica e boa parte da burguesia esclarecida, que estão convencidas de que a
reeleição de Bolsonaro será o caminho livre para a construção de um oximoro: a
democracia iliberal.
Qual é a principal consequência dessa racionalização do
futuro? Tentar diminuir de todas as formas, mas com sutilezas que as escondam,
a probabilidade de sua reeleição. Mas é preciso fazê-lo aumentando a
probabilidade de eleger o candidato do "meio", um ectoplasma do
"progressismo neoliberal" gestado em reuniões acadêmicas
literomusicais com partidos que, por sua dimensão atual, precisariam de uma
dezena para se organizarem num governo majoritário.
Estão fortíssimos (os gigantes fundos públicos mais as emendas
parlamentares), têm donos e controlam o Congresso, mas estão desconectados
tecnologicamente da grande massa eleitoral. Nenhum deles, até agora, parece ter
musculatura para chegar ao segundo turno.
Então, o que fazer, como diria o companheiro Ulyanov?
Se acreditarem na lenda urbana de que o sucesso da reeleição
depende dos bons resultados na economia, a solução é complicar a vida de Guedes reafirmando,
cinicamente, todo o apoio ao seu programa.
O conhecimento dessa operação poderá ter consequências
político-eleitorais devastadoras para quem deixar sua digital comprometida com
um projeto que, para tentar voltar ao poder, propõe o sacrifício de todos os
brasileiros.
À lenda urbana há pelo menos uma exceção. Dilma se reelegeu
depois da maior destruição da economia produzida de 2012 a 2014, cumprindo o
seu programa anunciado no longínquo 2005, quando disse: "Essa história de
que investimento é bom e despesa corrente é má é outra simplificação grotesca.
Despesa corrente é vida: ou você proíbe o povo de nascer, de comer ou de
adoecer, ou vai ter despesa corrente".
Bingo! Deixou uma queda de 9% do PIB per capita, 14 milhões
de desempregados e pelo menos 40 milhões de famílias comendo menos. E se
reelegeu!
Esse é um jogo arriscado que precisa ser jogado abertamente
sob as regras do Estado democrático de Direito, sob pena de a sociedade se
voltar contra o Legislativo se lhe for atribuída a responsabilidade de
continuar a proteger a "casta corporativista" porque seu desejo é
"redistribuir entre seus membros" o excedente produtivo de que ela se
apropriou, com direitos "mal adquiridos", desde a Constituição de 88.
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